DIA DO JORNALISTA: momento de reflexão.

Aqui, no Observatório da Comunicação Institucional, não fazemos jornalismo, embora hoje, a maior parte de nossos 376 conteudistas – já nesses 11 anos e 66 dias de existência -, sejam jornalistas, a maioria destes em transição de carreira. Cansados das redações e também da suas emulações por aí, em departamentos de comunicação empresariais – muito desses, “tóxicos”, palavra deles.

Lembro-me de um mês de minha carreira que passei numa diretoria da Petrobras, subcontratado de uma empresa terceirizada (sim, na Petrobras, os concursados “trabalham” chicoteando fornecedores que, por sua vez, torturam quarteirizados): o “chefe” (ex-editor de um importante jornal carioca) não descansou enquanto não mudou o nome do informativo interno de “Informe do Setor” para “Jornal do Setor” e de atribuir um “Expediente” aos seus subordinados e uma “Redação” aos seus domínios (uma sala e quatro baias). A água fervente começou a entornar quando mandou-me entrevistar um executivo para o tal informativo interno e exigiu:

(1) O uso de gravador (ao que retruquei, pois já tinha décadas de trabalho como consultor e auditor e sabia tomar notas taquigráficas). Ele, então, disse: – Leve o gravador e pergunte se pode gravar a entrevista. Minha primeira fala ao entrevistado era: – Isto constrange, não? Ao que invariavelmente ouvia: – Sim! E jamais – naquele mês – gravei qualquer entrevistado. E minhas “matérias” saíram – e muito boas. O que este tipo de “boss” não entende é que não se faz jornalismo numa empresa como se faz num jornal. A ideia não é pegar os podres (aprende-se na escola que “jornalismo é contar aquilo que não se quer contar; o resto é ‘secos e molhados’…”). Numa empresa, informativo interno é para refletir o que o executivo quer dizer ao seu grupo de colaboradores. E ponto. Não se está à caça de um Pulitzer.

(2) Quando eu terminei minha primeira versão da “matéria”, disse ao meu “chefe”: – Vou enviar ao entrevistado! Ao que ele vociferou: – Jornalista não mostra seu trabalho a entrevistado! Ignorei a sentença e enviei meus textos aos entrevistados no período. E todos elogiaram o que leram e ainda pediram melhorias para aumentar o nível de esclarecimento sobre os assuntos tratados ao seu pessoal. Convém repetir: numa empresa, informativo interno é para refletir o que o executivo quer dizer ao seu grupo de colaboradores. E ponto.

A fervura culminou quando – em meu último encargo – o “boss” foi comigo até um diretor poderoso (um daqueles envolvidos, anos depois, no Petrolão), para acompanhar uma reunião, e me apresentou: – Este é o Marcondes, nosso repórter… Pronto! Pedi para sair do “job” no dia seguinte. Jornalistas podem amar ser repórteres, mas eu não sou repórter, sou relações-públicas. E desconfio que a esmagadora maioria daqueles que sonharam ser repórteres um dia detestam trabalhar em ambiente corporativo fazendo “reportagem” sobre procedimentos maçantes para um camarada que sonha ainda estar chefiando a sua “Redação”. Ou atualizando o quadro de avisos do Setor quanto aos aniversariantes da semana.

Bem… voltando ao tema principal: o portal O.C.I. não é um “veículo” na acepção do Jornalismo. É a janela de um “think tank” (que é o que nos consideramos) para o mundo lusófono, justamente utilizada para mostrar nosso trabalho, falar de nossas experiências, relatar nossas pesquisas (o terceiro grande grupo de conteudistas é o de pesquisadores) e refletir sobre nossas práticas em organizações (o segundo maior grupo é de executivos dos mais diversos ramos e portes empresariais).

Como estudiosos da comunicação institucional, uma especialidade de Relações Públicas regulamentada, não podemos deixar de denunciar a dificuldade porque passamos neste período da história brasileira, especificamente. Afinal, autoridades – em todos os níveis – têm faltado com a verdade e têm-se omitido de dar explicações – dois pecados capitais. Falando por ministérios, secretarias, repartições, empresas, órgãos autárquicos e até ONGs, pessoas nos dão exemplos de más práticas de comunicação institucional todo santo dia. É repetitivo – pois já o fizemos antes – trazer a desfaçatez com que um prefeito reutilizou “pânico pré-fabricado” um dia desses, sem que ninguém o apontasse.

O estado caótico de coisas envolvendo sofismas, “fake news” e denunciação caluniosa em nosso país culminou anteontem com a publicação, pelo X (ex-Twitter) do material intitulado “Twitter Files – Brasil“, de autoria de Michael Shellemberger, David Ágape e Eli Vieira Jr. É uma guerra de comunicação. Talvez a maior crise comunicacional da história contemporânea, excetuando a crise da recente pandemia – que foi mundial. As armas não são fuzis, são palavras. São “narrativas“. E movem milhões de pessoas desde 2011 – início das chamadas “primaveras” – que de primaveris nada têm. Lembremos a Avenida Paulista em junho de 2013, com o movimento apartidário “Não é só pelos 20 centavos”. De primavera em primavera, precisamos mesmo mudar de estação e ouvir outras vozes em vez do ruído que vem da “grande mídia” vendida aos poderosos da ocasião.

Sobre Marcondes Neto

Bacharel em Relações Públicas pelo IPCS/UERJ. Doutor em Ciências da Comunicação pela USP, sob a orientação de Margarida Kunsch. Professor e pesquisador da Faculdade de Administração e Finanças da UERJ. Editor do website rrpp.com.br. Secretário-geral do Conrerp / 1a. Região (2010-2012).