Empatia... Humanização... Alteridade... De máscara?

Um dos aspectos mais marcantes da pandemia de Covid-19 é o uso obrigatório de máscaras.

De Nova York a Carapicuíba, todos temos que utilizar este EPI (equipamento de proteção individual), embora não se consiga determinar o “grau de proteção” da infinidade de máscaras disponíveis. Agora, até já se considera recomendável o uso de duas máscaras superpostas!

Quem vê máscara não vê coração… mais decoração

Um vídeo muito acessado no YouTube ensina-nos a “produzir” uma máscara caseira a partir de dois elásticos comuns, um grampeador e uma folha de papel-toalha.

Proteção de quem?

No Japão e na Coreia do Sul é cultura popular usar máscaras quando se está enfermo. É um sinal – entre muitos, por lá – da tradição de respeito e cuidado com os outros.

Sinal este, porém, que colide com a ideia do uso obrigatório de EPIs, visto que os protocolos de segurança que os exigem são originários de leis trabalhistas que visam a proteção do próprio trabalhador (não a dos outros) frente ao manuseio de equipamentos ou proximidade de fontes de calor, fagulhas, farpas e afins.

Mas…

Eis que fora daquele ambiente cultural, no Brasil por exemplo, a máscara se estabeleceu como uma proteção própria em relação aos outros, ou seja, uma defesa ostensiva, muitas vezes “empunhada” quando se cruza com alguém na calçada. Isto se o “protegido” não for para o outro lado da rua – num cuidado adicional.

Tais fatores denotam “asco ao próximo” (oposto de amor ao próximo – este muito mais propagado que praticado) e dão vazão a sentimentos na contramão da empatia, da humanização e da alteridade – termos-mantra sempre presentes nos discursos institucionais politicamente corretos.

Egoísmo, egocentrismo, egotrip

Não se pode ignorar que o discurso “cuidadoso” do fica em casa, embora queira remeter a uma soliedariedade grupal, só tem feito agudizar a solidão. Não por outra razão têm crescido barbaramente os casos de depressão e, até, de suicídio – tabu eterno da imprensa não noticiar.

A propaganda, em seu papel de sempre, reforçando os efeitos do tipo estímulo-resposta – coisa velha -, vem também contribuindo para o enclausuramento do indivíduo. Heineken, Volvo e Claro, em seus comerciais presentes hoje na grande mídia – (este é o dinheiro que as sustenta) – têm peças absolutamente bem feitas e persuasivas no campo do isole-se e seja feliz.

Quando eu estava na graduação… ouvia de meus professores sobre os meios de comunicação de massa e seu sempre deletério efeito de manipulação das mentes. Na época dos meus vinte anos isso me parecia um tanto estranho. Hoje, porém, constato, depois de muito tempo, o efeito nefasto da manipulação persuasiva nas últimas quatro décadas – não somente nacional, mas internacional: um discurso único revolucionário aceito por todos… porquanto infectados, desde os bancos escolares, pelo vírus da utopia comunista.

Comuna é bolha. Comunismo funciona na bolha. Fora dela, fracassa fragorosamente. O problema é que estamos vivendo em bolhas… de vários tamanhos e sob variados dialetos. E, nesses ambientes, ideais ousados de mudança prosperam sob dísticos e ditos fortes, com uma competência técnica que faria até Walter Benjamin tremer nas bases.

Sobre o sorriso

Se os olhos são a janela da alma, o sorriso é a porta da empatia.

Como negar uma segunda categoria de cidadão imposta desde sempre à crente mulher muçulmana, a quem se proíbe abrir tal porta a outrem?

E fala-se muito em reconhecimento facial… Funciona com máscara? Tenho minhas dúvidas.

Mais: a quem serve mutilar nossa expressão? Isto sem mencionar a proximidade que as máscaras têm com suas primas, as mordaças.

Máscaras – nos filmes de mocinho-e-bandido – estão reservadas aos fora-da-lei. A exceção do Zorro confirma a regra. E todo mundo sabia a identidade secreta de Dom Diego de la Vega…

“The protester”, personalidade do ano 2011 da revista Time, é mascarada – justamente para fugir à identificação.

E a mesma mídia que o incensou, inventando uma “primavera árabe” (que de primaveril nada tem), agora demoniza os invasores do Capitólio e, também, quem mostra a face na rua. Reconhecimento facial neles! Já Robin Hood, bandido de cara limpa, “fazia o bem”…

Humanidade, teu nome é contradição.

Sobre Marcondes Neto

Bacharel em Relações Públicas pelo IPCS/UERJ. Doutor em Ciências da Comunicação pela USP, sob a orientação de Margarida Kunsch. Professor e pesquisador da Faculdade de Administração e Finanças da UERJ. Editor do website rrpp.com.br. Secretário-geral do Conrerp / 1a. Região (2010-2012).