A 'grande imprensa', de velha, morreu. Só falta enterrar. Por Manoel Marcondes Neto.

Em 1o. de agosto último completei 37 anos de docência na UERJ.

A esses “anos de janela” somam-se outros 11 anos atuando em empresas privadas, antes de minha entrada para o meio profissional acadêmico. E há, ainda, outros tantos acumulando a docência com o mercado – até que fiz a minha opção pela Dedicação Exclusiva à Universidade. E, mesmo com D.E., venho somando mais uma década à frente do Observatório da Comunicação Institucional (O.C.I.) – o que me foi possível pelo caráter filantrópico da entidade.

Bem, caros leitores, em toda essa minha vida, nunca testemunhei algo parecido ao suicídio coletivo de praticamente todos os veículos de comunicação que a minha lida diária fez acompanhar por 5 décadas. Autocensura, cartelização, politização/partidarização, desonestidade intelectual, doutrinação, pensamento único, enfim, más práticas morais, profissionais e comerciais.

Em 1977, nos bancos da Escola de Comunicação da UFRJ (ECO), eu ouvia – por parte de meus professores – uníssona crítica à mídia. Era este o mantra: “a mídia manipula”.

Eu não gostava daquela sentença unânime. Quando muito, reconhecia, sim, que a propaganda pudesse manipular a massa com seu talento narrativo-criativo.

Hoje, triste, constato: a mídia manipula, sim. E como! E não é (só) nos intervalos comerciais.

Não é, pois, o Departamento Comercial dos veículos o maior vilão. O mal está instalado nas Redações. Lastimável!

Este Observatório inspirou-se em outro, o da Imprensa, do saudoso Alberto Dines. Nossa missão, porém, é diversa; analisar e refletir sobre “quem fala” e não sobre os media. Mas, dado à pandemia de Covid-19 – quadra histórica que mudou o mundo em muitos aspectos em apenas dois anos – a imprensa mudou do canal dos fatos e passou a formular o presente (e a querer moldar o futuro, alterando o passado) em absoluta wishful thinking narrative, e nós – o antes “respeitável público” – ficamos a ler, ouvir, ver e navegar navios com cascos plenos de furos. Não podíamos deixar essa constação passar em brancas nuvens.

Desde 2008, venho pregando em salas de aula – sobretudo nas de pós-graduação em que 80% dos inscritos são jornalistas em atividade –, que o futuro do jornalismo é o empreendedorismo.

Infelizmente, nossa graduação continua a produzir candidatos a consumidores e empregados. Só que não há emprego. E para que se possa consumir, sobreviver, enfim, a única saída é mesmo o empreendimento.

Porém, quando surgem nascentes iniciativas no jornalismo, como a media mainstream reage? Acusando-as de produzir fake news. Chamando jornalistas de “blogueiros” (na tentativa de diminuí-los, embora tais veículos mantenham blogs assinados sob suas marcas).

Tendo como base a definição de fake news que este Observatório ofereceu ao mercado, talvez esta atitude da mídia revele o seu receio de ser desmascarada nestes tempos em que espelha, sem tirar nem por, o admirável mundo orwelliano de “1984”.

Nesta triste data que marcou o passamento de Elizabeth II, os sinos também dobram pela outrora “grande” imprensa.

Dois minutos que valem por duas mil palavras – https://www.youtube.com/watch?v=-l9Vr71TH94.