Precisamos falar sobre comunicação corporativa. Por Carolina Attili.

Desde o início da pandemia, em março de 2020, muitos de nós viram suas vidas virarem de cabeça para baixo. Seja pela perda do emprego, de um ente querido ou da diminuição do salário, esse último ano não foi fácil para ninguém. Uma mudança óbvia e já bastante discutida foi a migração do trabalho presencial para o trabalho remoto, o chamado home office, que se tornou realidade para muitos trabalhadores, principalmente aqueles oriundos de atividades administrativas, de educação ou voltadas para a área tecnológica.

Não pretendo neste texto, entretanto, falar sobre o trabalho remoto em si pois acredito que muito (até demais) já foi dito sobre seus benefícios, dificuldades, dores etc. Gostaria de discorrer, porém, sobre uma questão muito pouco citada quando tratamos do trabalho fora do escritório. Se dermos uma olhada no feed do LinkedIn, encontraremos várias publicações e até mesmo enquetes “bem-humoradas” falando das maiores “vantagens” dessa forma de trabalho e citando exemplos de benefícios como “ficar longe de gente chata”, “não ser interrompido”, “não ter que falar com o chefe” etc.

Não é novidade para ninguém que um dos maiores motivadores de problemas e estresse no trabalho sejam motivados por dificuldades de relacionamento, seja com o chefe, seja com os colegas de trabalho. Isso nos leva a pensar que um dos maiores problemas enfrentados hoje pelo trabalhador moderno é, então, a dificuldade de comunicação.

Se no relacionamento presencial com os colegas lado a lado, dividindo suas dores e alegrias, com a possibilidade de conversar praticamente a qualquer hora, não somos capazes de nos comunicar de forma efetiva, clara e respeitosa, será que a migração definitiva para o home office não será um agravante para a já tão deficitária comunicação entre os membros das equipes?

Será que em vez de nos alegrarmos por não termos mais que “suportar” aquele colega “chato” que “fala demais”, não deveríamos pensar em como chegamos a esse ponto?

Parece ter sido mais fácil empurrar essa questão com a barriga e jogar a solução para o trabalho remoto, ou seja, para o “distanciamento” literal do problema, do que buscar maneiras de melhorar o relacionamento e a comunicação entre as pessoas no ambiente de trabalho?

São essas questões, ao meu ver, que deveriam causar discussões e preocupações para as empresas, muito mais do que se os colaboradores são mais produtivos ou mais focados trabalhando em casa. Pois, se já temos tanta dificuldade de nos relacionarmos, olho a olho, todos os dias, tendo a chance de falar pessoalmente com as pessoas, o que acontecerá lá na frente, se nunca chegarmos a conhecer ao vivo, de fato, nossos gestores e colegas de trabalho?

O que será da comunicação humana e da nossa capacidade de se relacionar de forma empática? Precisamos falar urgente sobre comunicação corporativa.

Carolina Attili é cientista social formada pela Universidade Federal de São Paulo, pós-graduanda – MBA em Gestão de Projetos pela USP, e certificada internacionalmente em Gestão de Projetos Sociais – PMDPro pela APMG International. Tem experiência com políticas públicas na área de empreendedorismo e Economia Criativa. Atualmente, vem se aventurando na área de programação e análise de dados.