EFEITO RP - Construção. Por Bárbara Calixto.

Eu moro no mesmo lugar há quase 5 anos. Quando escolhi meu apartamento, a primeira coisa que pensei foi “vou ter que colocar cortinas aqui”, porque bem na frente da janela da cozinha tem um prédio em construção. Na época, era o início da pandemia, então todas as obras estavam paradas, inclusive um outro prédio que fica na frente da janela do meu quarto.

Acontece que, mesmo depois de meses, a construção nunca foi retomada. De nenhum dos dois prédios. Sempre olho para eles e penso: será que um dia vão retomar? O que será que isso vai virar? O que aconteceu? Isso constantemente me fez refletir sobre as construções que fazemos na nossa vida, sobre os planos que começamos e às vezes somos impedidos de continuar, sobre as adversidades gerais que nos atingem no dia a dia. Mas que, ainda assim, são construção, projetos a longo prazo.

Recentemente, fiquei deslumbrada por uma outra construção, essa que eu coloquei na foto de capa deste texto. Ela é uma obra pública, aqui da Universidade da cidade em que eu moro, e que por algum motivo – talvez verba – parou de ser erguida. Voltei para os pensamentos de curiosidade, indagando o que será que aconteceu, o que seria aquele prédio etc. Mas a verdade mesmo é que o que mais me chamou a atenção foi a forma como as plantas se apossaram das estruturas.

A natureza, sua força, sua forma, sua vida, encontrou uma morada ali. Em cada parede foi subindo e brotando. Em cada pedaço de tijolo, fincando as suas leves raízes e encontrando formas de seguir o seu curso. E isso tudo me levou para aquele lugar de refletir sobre os planejamentos, sobre as construções que começamos e às vezes não continuamos. Seja no trabalho, um projeto ou literalmente uma casa. A vida, em sua imensa dinamicidade, apresenta constantemente oportunidades de construir e reconstruir coisas, de montar e desmontar, de erguer, derrubar e também parar – ou só pausar.

Vejo que os planos e as relações também são assim. Por mais que a gente planeje todas as coisas, que tenhamos informações mapeadas e descritas, também é importante contar com os imprevistos, as intempéries climáticas, com as adversidades inimagináveis ou só com a nossa indisposição para continuar.

Como relações-públicas, sempre penso em planejamentos, mas principalmente na construção dos relacionamentos entre uma organização e seus públicos específicos. Busco compreender e encontrar formas de posicionamento, ajustes na comunicação visual ou verbal, alternativas para estabelecer algum tipo de vínculo e criar um canal para trocas. Gosto de ouvir, entender os sinais e analisar os cenários, ir construindo aos poucos. Ter atenção aos pontos de contato, sabendo que todo e qualquer troca que uma pessoa tiver com uma marca, uma interação em rede social ou uma experiência de compra, é uma forma de estabelecer um relacionamento com ela. Pensar em como a comunicação pode resolver – ou às vezes prever – um problema e uma crise.

Esse olhar para a comunicação, relacionamentos, planejamentos, branding e construção, me faz visualizar mais opções, mais alternativas. Por exemplo, não é porque uma construção – seja ela qual for – está parada, que ela deixou de existir – seja física ou figurativamente. Não, muito pelo contrário. Ela continua ali, pela metade ou inteira, ela existe e nós podemos fazer algo com isso, mesmo que seja a escolha de deixá-la de lado para que a natureza siga o seu curso e a incorpore como sua, ou então, voltar a nutri-la com informações e diálogos.

Bárbara Calixto é graduada em Relações Públicas pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e possui MBA em Marketing pela USP/Esalq. Já trabalhou em agências de comunicação, no segmento varejista, indústrias e como coordenadora de marketing em uma GovTech. Além disso, é uma pessoa que ama cozinhar, apreciar a natureza e está sempre disponível para uma boa conversa.