COMUNICAÇÃO & CARREIRA - Como falar de 'soft skills' no currículo (sem citá-las explicitamente). Por Valeska Petek.

Sabe quando aparece aquela vaga maravilhosa, que é a sua cara? O cargo combina com o que você busca, é em uma empresa bacana, e ao ler a descrição da vaga percebe que você atende aos requisitos desejados de conhecimento e experiência, e já começa a revisar o seu currículo focando nela. Por enquanto, tudo certo; até que você percebe alguns requisitos mais subjetivos como “boa comunicação”, “facilidade para trabalhar em equipe” e “criatividade”… E agora, como citar isso no currículo?

Essas habilidades comportamentais (também conhecidas como soft skills), nem sempre são mensuráveis da mesma forma que um conhecimento técnico, ou seja, ainda não há um teste de proficiência, por exemplo, que mostre que você tem um nível avançado de “resolução de conflitos” ou de “inteligência emocional”. Assim, citar que temos uma determinada soft skill atribuindo-se uma nota (de 0 a 10) ou um nível (básico, intermediário ou avançado) não seria a forma mais adequada de demonstrar que temos essas habilidades.

Ao falamos das nossas soft skills é importante evitar que pareça uma opinião pessoal. Ou seja, em vez de afirmar que você se considera um bom líder, por exemplo, tenha uma estratégia ao citar (no currículo) as experiências profissionais em que você colocou a habilidade de liderança em prática.

Claro que a nossa percepção pessoal sobre as nossas próprias habilidades deve ser considerada, mas ao comunicar isso por escrito em um currículo, ou seja, nos apresentando em busca de uma oportunidade, devemos lembrar que as pessoas que forem lê-lo podem ter uma interpretação diferente. Afinal, quando alguém afirma ter “habilidades avançadas de liderança” (sem um contexto), não é possível saber exatamente qual aspecto de liderança esse profissional pretendia destacar.

Os estudos também nos ensinam soft skills

Ao pensarmos na educação formal (como a escola ou a faculdade) é comum associarmos a algo mais teórico ou técnico que parece distante do desenvolvimento de habilidades comportamentais. Entretanto, há uma diversidade de soft skills que podem ser aprendidas em contextos como esses e, em um currículo, pode fazer sentido incluir uma descrição que demonstre esse aprendizado. Afinal:

– Ao desenvolver um projeto em grupo, imagina-se que os participantes tenham que trabalhar em equipe na distribuição de tarefas e responsabilidades, bem como negociar prazos;

– Ao realizar apresentações em público (como um seminário), os alunos vivenciam aspectos da oratória que envolvem planejamento do conteúdo, a fala em si, e até a gestão de emoções (como o nervosismo);

– Ao frequentar um curso com diversas disciplinas (às vezes ao mesmo tempo em que se trabalha ou participa de projetos extracurriculares), um aluno demonstra habilidades de gestão de tempo e de priorização, pois precisa delas para atender às diversas demandas.

Há também cursos voltados especificamente ao aprendizado de habilidades comportamentais (como essa jornada que desenvolvi) e que podem nos ajudar a potencializar o nosso crescimento. Mas até mesmo no ensino tradicional o conhecimento adquirido também nos aproxima dessas skills, especialmente quando a estrutura dos cursos contempla uma diversidade de formatos de aprendizado (como leitura, debates, e atividades práticas, por exemplo).

Há muitas soft skills embutidas nas suas experiências

Lá no comecinho da minha carreira, aos 16 anos, eu fui convidada a dar aulas em uma escola de idiomas da minha cidade. Na época, eu era aluna nessa mesma escola, e hoje vejo que essa oportunidade foi uma combinação de sorte (pois a vaga estava aberta) e preparação (mesmo que não tenha sido intencional para aquela vaga). Me lembro que, além de demonstrar ter bom conhecimento dos idiomas em si, eu também acabava mostrando alguns traços do meu perfil, como:

– Era uma adolescente comunicativa que tinha facilidade para falar diante de outras pessoas em uma apresentação (havia sido até líder de uma gincana na escola);

– Compartilhava sugestões de músicas e filmes internacionais que se relacionavam com o conteúdo que estávamos estudando, o que ajudava meus professores na preparação das aulas extras que tínhamos;

– Havia feito um trabalho voluntário que envolvia ensinar pessoas da terceira idade a usarem computadores, o que demandava certa didática ao transmitir conhecimento.

Isso tudo – com zero experiência – profissional formal. Imagine a quantidade de habilidades que aprendemos ao longo dos anos e como essa lista vai crescendo!

Imagem: Pexels.

Valeska Petek é graduada em Relações Públicas e especialista em Comunicação (ambas pela Unesp). Após 10+ anos de carreira em multinacionais (como Tilibra e Volvo, na área de Recursos Humanos), percebeu que Comunicação e Carreira andam juntas e, atualmente, é Mentora de Carreira, ajudando profissionais a darem voz aos seus sonhos profissionais. Saiba mais sobre seus cursos, mentorias e palestras em valeskapetek.com.