ANÁLISE CRÍTICA - Afinal, quem você está ouvindo? Por Silmara Helena Pereira de Paula.

As funções da Comunicação Pública

Retomo nesta oportunidade às reflexões sobre as funções da Comunicação Pública, assunto que abordei no artigo “Comunicação Pública, Relações de Poder e Cidadania” apresentado na disciplina “Comunicação Pública e Política: Fundamentos para Análise das Crises da Democracia Contemporânea”, do programa de pós-graduação da USP. Cursei essa matéria como aluna especial no ano de 2021.

Nas conclusões do texto, em que explorei os conceitos de comunicação pública a partir de uma revisão de literatura e discorri sobre os desafios da praxis, elenquei o que acredito serem as cinco principais funções da comunicação pública: ouvir, informar, publicizar, dialogar e empoderar.

Por aqui, já disponibilizei a íntegra do artigo e tratei do que significa informar e empoderar. Agora, detalharei um pouco mais sobre o processo de escuta.

A promulgação da Constituição Federal de 1988 indicou às instituições públicas a necessidade de garantir ao cidadão a participação nos processos de discussão e decisão sobre políticas públicas.

De lá para cá, uma série de organismos de ampliação do debate público foi criada, principalmente, nas áreas de Saúde e Educação, como é o caso dos conselhos. A experiência avançou para outros setores como Juventude, Segurança Pública, Turismo e Transporte, por exemplo – sempre com o intuito de oferecer à sociedade civil a possibilidade de interação com as políticas públicas propostas pelos entes federados.

Além disso, a exigência legal de realização de audiências públicas e outras estratégias de mobilização popular para tratar de assuntos como o orçamento público dos municípios começaram a ser realizados por Câmaras Municipais e Prefeituras a fim de atender exigências legais impostas por leis federais e pela fiscalização de órgãos como os Tribunais de Contas. E ainda tivemos nesse âmbito o êxito de ações como o orçamento participativo.

O fato é que, desde o final da década de 1980, é perceptível o esforço de setores comprometidos com a democracia de consolidar os espaços de escuta institucionais da população.

Não é a toa que ouvir deva ser – em minha perspectiva – a primeira função da Comunicação Pública, quando esta se propõe a atender os anseios do cidadão.

O problema é que, acostumados a tratar dos interesses dos representantes da hierarquia dos poderes, muitos comunicadores públicos simplesmente ignoram esse princípio. Ou seja, não percebem que transformar a comunicação pública em uma política pública de impacto e resultados efetivos passa por envolver o cidadão e entender as suas angústias.

O que o cidadão realmente quer saber? A linguagem utilizada nos textos está clara, acessível e compreensível? O site oficial funciona? Traz informaçãoes úteis e relevantes? E as campanhas publicitárias têm realmente atingido o público e produzido o resultado esperado? Não há mais espaço (ou não deveria haver) para o exercício de um tipo de comunicação que tem como base apenas a intuição e seja feita em um sistema top-down, sem qualquer reconhecimento dos atores envolvidos no processo.

As pessoas não são, como lembra Giddens (1996 apud Gamson, 2011), “… tolos culturais ou estruturais”. Nenhum comunicador público que se preocupe com o papel institucional e social da comunicação pode subestimar a importância de valorizar o que pensa o cidadão. É essencial aprender a escutar cuidadosamente.

Realizar enquetes, contratar pesquisas, verificá-las e se orientar por seus dados são algumas das estratégias que podem ser aplicadas para aprimorar as ações de comunicação e aproximá-las da realidade de quem realmente deveria interessar. Afinal, mais do que saber com quem a gente está falando é preciso ter certeza de quem a gente está ouvindo.

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Silmara Helena Pereira de Paula é jornalista formada pela Universidade de Mogi das Cruzes (UMC). Atua na área desde 1994 e trabalha em comunicação pública desde 2003. É pós-graduada em Docência em Ensino Superior pelo SENAC-SP (2015) e em Filosofia e Autoconhecimento: uso pessoal e profissional pela PUC-RS (2021). Atualmente é assessora de imprensa concursada na Câmara Municipal de Arujá.