A comunicação e a vacina. Por Ilka Carrera.

Era uma vez um país em uma galáxia muito distante, onde as pessoas não queriam imunidade contra doenças infectocontagiosas. Não, volta a história, na verdade é tudo culpa da comunicação. O problema não é a vacinação, mas sim a forma como é divulgada. Justamente, o papel de uma campanha de mobilização de comunicação pública é a chamada para ação. Poderia até fazer uma prosa ou poesia, mas vamos dissertar sobre a interpretação da situação.

A revolta da vacina que ocorreu no Brasil em 1904, aconteceu porque a população desinformada e insatisfeita com outras questões sociais foi insuflada pelas forças políticas que queriam depor o presidente Rodrigues Alves. Na época, circulou até um boato que a vacina transformava as pessoas em gado. O governo foi convencido por Oswaldo Cruz a tornar a vacinação obrigatória para conter o surto de varíola que assolava o país. A estratégia do grande médico sanitarista não funcionou, pois, além de causar confrontos e protestos, fez diminuir o número de pessoas vacinadas, que vinha crescendo. Moral da história: é melhor convencer e mobilizar que obrigar as pessoas a fazerem alguma coisa.

Como sentenciou George Bernard Shaw, o maior problema com a comunicação é a ilusão de que ela foi alcançada. E por falar em Shaw, ele teve ideias péssimas, pois era eugenista e, no final da vida, resolveu brigar com Louis Pasteur e se posicionar contra a vacinação.

Pasteur foi o cientista que descobriu o processo de fermentação e detectou a bactéria através de microscópio. Mas no que concerne a comunicação, Shaw tinha razão. De fato, a interpretação correta da mensagem é fundamental e o pior que pode acontecer é não ser corretamente compreendida.

A comunicação pública precisa ser positiva, ou seja, ao invés de provocar conflitos, deve esclarecer, informar e dar esperança. O papel do governo é argumentar e mostrar aos cidadãos a importância de atitudes socialmente responsáveis. A campanha de vacinação assertiva é pautada na argumentação a favor da cura e combate à doença. Observe que publicitar a frase ‘Proteja sua família e vamos juntos vencer o vírus’ é mais convincente que obrigar alguém a tomar a vacina. Apresentar dados quanto a eficácia da vacinação é mais interessante que incentivar o debate vazio.

Cabe salientar que, além de preservar vidas e evitar uma crise sanitária, a vacinação da população brasileira é importante para o turismo e os negócios. Não podemos permanecer como zona de alerta e precisaremos transitar em outros países devido a compromissos profissionais e empresariais. Certamente, será exigido o cartão de vacinação para entrar em países importantes para os relacionamentos comerciais.

A polarização ideológica que se criou quanto à origem da vacina não é profícua. Quando estiver comprovada a eficácia, haverá uma corrida acirrada por parte de todas as nações pelo medicamento e não importará o país de origem. A melhor estratégia para se fazer compreender é evitar barreiras na comunicação e conhecer bem o repertório do outro. O esclarecimento é o caminho seguro para uma comunicação exitosa. O governo brasileiro deve optar por informar a população no sentido de gerar compreensão dos fatos através de uma comunicação positiva.

Portanto, entre a força e o argumento, escolha o convencimento, como diria Confúcio, quando as palavras são mal-usadas, as relações estão mal. Se os relacionamentos não andam bem, os negócios estão na pior. Se os negócios não estão bem, a cortesia, a poesia e a música cessam. Comunicação é tudo.

Ilka Carrera é relações-públicas, mercadóloga e professora. Mestre em Administração, especialista em Marketing e graduada em Comunicação. Atua nas áreas de comunicação e marketing há 20 anos. Realiza consultorias em gestão de crises, comunicação e marketing há dez anos. Docente desde 2004 nas principais instituições de ensino superior. Administra recém-lançada página no Facebook e Instagram (@crisesecrises).