Na primeira vez em que o presidente Donald Trump usou o Twitter para fazer uma comunicação “oficial” de seu governo – acredite – eu antevi o caos que tomaria conta das relações políticas e sociais que hoje nos assola. [Artigo e links subsidiários].
Como alguém com uma carreira de estudo e trabalho inteiramente voltada à comunicação institucional, aquilo “bateu mal” e, imediatamente, eu reprovei a ação.
Nunca, instituições deveriam usar redes sociais que, como o próprio nome denota, são lugares para indivíduos se relacionarem, “pessoas físicas”.
Quando governos, empresas e organizações deixam de lado o (clássico) modelo de relações públicas (media relations, public affairs) e partem para a ágora digital, começa um vale-tudo que só pode acabar mal.
E, infelizmente, apesar do tanto que se fala em regulação, a comunicação (como campo de saber) – apesar de já extensamente regulada (no campo do fazer) – não conseguiu dar conta da transição das redes sociais ao status de “mídias sociais”.
Rumo ao nada… em sete movimentos
1 – No campo da internet, tudo começou como “rede social’. Era grátis, “orgânico”, e sem “monetização”.
2 – Depois, atribuiu-se a alcunha de “mídia social”. Ninguém notou. E a mídia de verdade nem ligou.
3 – Vieram o “impulsionar” postagens e o “turbinar” conteúdos. O mercado da propaganda não entendeu… ou se fez de desentendido… e não interferiu.
4 – Chegou a tal da “publicidade programática” e virou tudo de ponta-cabeça. Não há mais diferença entre pessoa física e jurídica. Nem entre anunciante, agência e veículo.
5 – O profissionalismo na Comunicação está se esvaindo há duas décadas. Mas Legislação e Academia estão dormindo em berço (nada) esplêndido.
6 – Branded content e “marketing de influência” – feitos por qualquer um – misturaram arte e artista, obra e vida pessoal, jornalismo e propaganda. E os algoritmos foram elevados à enésima potência, com bots, “neuromarketing” e Inteligência Artificial.
7 – Uma enchente de “coisas novas” – muito conhecidas – passou a afogar-nos, partindo de todos os lados: fofocas, maledicência, sofismas, desinformação, fake news, “discursos de ódio”, “disparos em massa”… tudo muito bem pago com “recursos não-contabilizados”.
Deu no que está dando. E vai piorar.
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Manoel Marcondes Neto é diretor-presidente do Observatório da Comunicação Institucional.