Um apelo ao telefone. Por Juliana Fernandes Gontijo.

— Não, mãe! Eu não me esqueci da senhora!
— Filho, mas custava me ligar por poucos minutos?
— É que a vida inteira fomos educados assim: “dia das mães e dia dos pais” não existem – ou melhor-, a comemoração é todo dia. O segundo domingo, em maio e agosto, são apenas datas comerciais, só para a compra de presentes. Natal é o nascimento de Jesus. Então, eu acho que dia das mães não é importante, mas eu me lembro da senhora todos os dias.
— Pergunto de novo! Por que você não me ligou nem na passagem do ano? Esperei o dia todo por um telefonema seu!
— Sãos afazeres de casa, mãe, só isso. A senhora poderia ter me ligado também.
— Gustavo, um dia, a Amandinha vai crescer!
— Desculpa, mãe. Estou com tanta coisa da universidade acumulada neste fim de ano…
— Eu entendo, mas não tem desculpa. Sabe aquela famosa idade em que os filhos começam a se esquecer dos pais?
— Eu não me esqueci da senhora, mãe.
— Então, por que não mandou ao menos uma mensagem pronta do ZAP? Ou me ligou na hora do almoço, só para falar “Oi, feliz ano novo”, e colocou a minha neta na linha?
— É que…
— Deixa eu terminar?

Silêncio…

— Aquela idade que, “amanhã” eu não saio com os meus pais, porque todos os meus colegas riem do que eles falam.
— Mãe, pelo amor de Deus, não é isso!
— É isso sim! Eu ainda não acabei!
— Mas, mãe…
— Cansei disso, Gustavo! Não existe argumento e não custava nada me ligar. Já perdi a conta dos anos em que você não liga no meu aniversário ou do seu pai. Tudo bem que o dia das mães e dos pais é todo dia, Natal não importa para você, mas nem no nosso aniversário de vida ou de casamento? Faça-me o favor, filho!
— Mãe, a senhora sabe que sou ruim de datas.
— Anote na folhinha da parede ou na porta da geladeira. Coloque um lembrete no celular.
— Saímos ontem, mãe. Amandinha está quase andando. Estamos muito felizes, como o tempo passa, não é verdade?
— Então divida esta felicidade conosco! Não custava ao menos ligar e dizer: “Oi, mãe. Estou com saudades, mas a distância não deixou a gente se encontrar de novo” nesta virada de ano.
— Desculpe, mãe. A senhora e meu pai são tudo na minha vida!
— Já falei, chega de desculpas! Então prove que somos isso! Você é tudo na nossa vida, filho!
— A vida está tão difícil aqui…
— E aqui não? Eu vejo que não vamos chegar a lugar nenhum com esta discussão. Não vou mais tomar o seu tempo.
— Que é isso, mãe?
— É bem triste a gente ficar sem notícias suas! Então, dê um “sinal de fumaça” de vez em quando. Ao menos, uma mensagem de WhatsApp. Você mora só em São Paulo, Gustavo, não é outro país! Por isso, não custa ligar para a gente.
— Eu sinto muito, mãe! Eu prometo que vou mudar.
— Espero isso, Gustavo, há anos. Eu te amo, mesmo você tão distante de nós. Mas, faça um esforço para vir nos visitar logo, estamos com muita saudade.
— Em breve, eu irei. Mãe, vou ter que desligar! Amandinha está chorando. Acho que é fome. Eu também amo a senhora, mãe.
— Desculpe te incomodar, mas não se esqueça de que eu e seu pai somos únicos para você, assim como você e a Tatiana são únicos para a minha neta. Pense nisso!

Madalena desligou o telefone e ajoelhou em frente à Virgem de Guadalupe, pedindo mais uma vez para que ela intercedesse: “Virgem Santa, a esperança é a última que morre. Ela só não pode entrar em coma”, então eu lhe peço – rogai por nós! Faça meu filho dar notícias. Sinto tanta falta dele.

Do outro lado do estado de São Paulo, Gustavo chorava copiosamente enquanto a esposa tentava consolá-lo:

— Não é tarde para rever a sua vida, Guto! Dê mais atenção aos seus pais. Rezemos a Deus que Amandinha jamais faça isso com a gente, não é verdade?
— Não fale isso, Tati!
— A gente nunca sabe o que pode acontecer, amor! O futuro só a Deus pertence!

Imagem: Victoria, Pixabay.

Juliana Fernandes Gontijo é jornalista por formação e atriz. Uma redatora apaixonada pela escrita criativa, cultura de maneira geral, que ama escrever, contar histórias reais ou fictícias.