Quem é de verdade sabe quem é de mentira. Por Juliane Maciel.

Em um belo dia, uma empresa resolveu fazer algo extraordinário. Ela pensou nos colaboradores, em sua missão, na valorização por metas, na distribuição de PL/PLR, na bonificação por ideias, no dia de folga no dia do aniversário, nos eventos internos, no auxílio volta às aulas, no presente pós-parto. Eram tantas ideias e ações, e tudo era tão de verdade, que os funcionários se sentiam extremamente felizes e motivados.

Nessa mesma empresa, o diretor “estacionava” por minutos a fio na Recepção para ouvir a história do zelador. Ele tinha alegria em participar do café da manhã com a diretoria, e ouvir (e responder) todas as curiosas dúvidas dos funcionários. Ele olhava nos olhos. Era generoso. E essa cultura transbordava e percorria até os menores setores dessa empresa.

Lá, os funcionários tinham até plano de carreira! Queriam ficar lá “até aposentar”. Tinham orgulho de usar o uniforme e a expressão “vestir a camisa” provavelmente nasceu nesta empresa.

Toda essa estrutura de apoio, amor e dignidade fizeram, desde o início, com que essa empresa se destacasse no mercado. Ano após ano as metas de faturamento ultrapassavam o esperado. Cada convenção era espetacular! Todos ficavam orgulhosos do resultado extraordinário que a união da equipe trazia para a empresa e dos benefícios gerados para eles mesmos. Esta empresa existe há muito tempo, e ainda trabalha com constante crescimento, mesmo diante dos novos desafios.

De repente, as notícias começaram a se espalhar! Quem não gostaria de aumentar o faturamento a partir de pequenas estratégias de marketing? Assim, essa empresa começou a ser vista, a ser admirada! E como é de praxe, começou a ser copiada.

Empresas de diversos setores começaram a copiar as fórmulas de sucesso dessa empresa. Na valorização por metas, na distribuição de PL/PLR, na bonificação por ideias, nos eventos internos, no auxílio volta às aulas, e tudo mais o que podiam. Eram tantas ideias e ações!

Só que na maioria dos casos, tudo não era de verdade. Os funcionários insatisfeitos não compreendiam o porquê de tantos benefícios se do Diretor ao Gerente ninguém se olhava nos olhos, e não havia sequer generosidade. Funcionários novos, ao serem contratados, chegavam com um brilho novo no olhar por conta de todas essas estratégias, mas bastava um primeiro contato com a gestão que a insatisfação tomava conta. A desmotivação era tanta, que se fazia questão de trocar de roupa ao entrar e sair da empresa, para que ninguém perguntasse sobre o lugar onde trabalhavam. Como até o Google (e outras ferramentas de comunicação) era bloqueado dos computadores internos, a busca por novas vagas era o que predominava nas abas dos celulares de toda a equipe. Mas todo esse movimento não era suficiente para que os CEOs enxergassem a situação deplorável que era o clima organizacional de sua empresa. Com um faturamento dentro da média, eles acreditavam que a comissão elevada dos vendedores era suficiente para manter a estrutura e, para eles, tudo caminhava bem! Na verdade, acreditavam que era um sucesso. Mal sabiam que a má gestão ali também transbordava, chegando a os stakeholders. Batia do cliente ao fornecedor. Mas apesar de tudo, esta empresa durou muitos anos. E ainda dura.

Certamente você conhece ao menos uma empresa que se enquadre dentro das histórias. Pode ser que exista uma baita saudade da empresa 1, e que você tenha se arrependido de migrar para a empresa 2. Pode ser também que, após vendida, a empresa 1 tenha se tornado a empresa 2, e que você esteja infeliz lá.

Não importa quantos benefícios a equipe tenha, o clima organizacional ainda é o termômetro das organizações. E mais: cultura vem de cima. Se a gestão não muda, se o CEO não te olha com amor, a cultura bate no ESG e na Cartilha de Normas e volta sem resultado. Se o pensamento em sustentabilidade é falácia, todos vão desperdiçar as folhas A4 e deixar as luzes acesas. Se a governança não é feita de forma transparente, nenhuma prática, regra ou procedimento vai auxiliar no crescimento da empresa. Se o presente de aniversário não for de verdade, nem a PL vai conseguir reter talentos.

É como bato na tecla há mais de 15 anos: “A alma é o segredo do negócio”. Quem é de verdade, sabe quem é de mentira.

Eu sou Juliane Maciel, diretora executiva na @loopvideo_produtora, sócia na @souordoo e diretora de negócios na @oitenta.cafe | @jumacieloficial