O vírus derrotou o presidente? Por Ilka Carrera.

Os especialistas apontaram a derrota de Trump nas eleições estadunidenses e eu li algumas análises bem interessantes. Penso que a postura do líder de um país como os Estados Unidos influencia o comportamento de seu povo e também líderes de outras nações. Já expressei minha crença, com base em prevenção de crises, de que tivemos melhores resultados no controle sanitário e a escalada com o H1N1, porém não conseguimos conter a Covid-19 por conta da comunicação e da gestão. Por exemplo, Trump com seu comportamento de minorar o problema e não usar máscara contribuiu significativamente para a propagação da doença no seu país.

Até o dia da eleição, a Covid-19 já havia matado mais de 230 mil americanos, tão logo a resposta veio nas urnas com um recorde de pessoas votando e Biden superou Obama em votos populares. Trump dividiu o país e teve muitas polêmicas e conflitos durante o seu governo, mas a sua gestão no que tange o controle da Pandemia foi crucial. Antes do Corona vírus, os seus índices de aprovação eram em torno de 49%, então o vírus derrotou o presidente?

A recente história política dos Estados Unidos e do Brasil fez-me lembrar de minha avó, quando ela falava que não se faz mais lideranças como antigamente. Os tempos mudaram e os discursos continuam os mesmos e os estratagemas para vencer as eleições sempre repetidos. Na era digital, onde o acesso a informação não permite que máscaras durem muito tempo, o tradicional populismo tende a não funcionar por um longo período, mesmo com a indústria de calúnias e fraudes, as fake news. Creio que os estadistas da atualidade precisam visitar ou revisitar os ensinamentos de Aristóteles, Sócrates e Maquiavel.

Nicolau Maquiavel, em sua grande obra ‘O Príncipe’, aconselhava a conduta honesta e o cuidado em tentar agradar a opinião pública, quando não fosse adequado, ele chamava atenção para natureza volátil da aprovação popular. Em relação a postura, afirmou: ‘Todos sabem que é louvável em um príncipe manter a palavra empenhada, e viver com integridade e não com astúcia’.

Certa vez, Alexandre perguntou a Aristóteles: ‘O que é melhor para os reis, coragem ou justiça?’. Assim ele respondeu ao seu aluno: ‘Se o sultão for justo, não necessitará de coragem’. Sócrates disse: ‘O mundo é estruturado na justiça. Quando advém a injustiça, o mundo não se equilibra nem se firma’.

Uma conduta pautada na justiça deixa um legado e mobiliza os povos. A firmeza nas palavras idem. O discurso vazio, beligerante e sem propósito não apresenta bons resultados. Cito ainda um ex-presidente dos Estados Unidos, Benjamin Franklin: ‘Diga-me e eu esquecerei; ensina-me e eu poderei lembrar; envolva-me e eu aprenderei’. Faça e suas ações ficarão registradas.

Ilka Carrera é relações-públicas, mercadóloga e professora. Mestre em Administração, especialista em Marketing e graduada em Comunicação. Atua nas áreas de comunicação e marketing há 20 anos. Realiza consultorias em gestão de crises, comunicação e marketing há dez anos. Docente desde 2004 nas principais instituições de ensino superior. Administra recém-lançada página no Facebook e Instagram (@crisesecrises).