O Regador de Eros. Por Renata Quiroga.

O solo contente segue a lida de segurar o mundo
No viés de seus pés, rastreia as pegadas
Sabe que onde se pisa é onde se revela
O pé também se resvala
Se faz vala.

Em seu pior segundo, esse vão sem fundo
Ordena seu caos
Porque mundo que é mundo conhece o tamanho da sua ossada
E que no melhor de tudo
De chão não passa.

Não passa. Só aumenta a carga d’água
Da tormenta que conta as gotas
Desabadas no pretérito de um futuro preterido
Pelo que se diz caso de um acaso
Em prantos limpos.

A salseirada secou a voz da declamação
O Ser tão em versos boia em outros timbres
Vibra em gargantas inundadas de outras gentes
Na impermanência, no fluir da resistência.

O regente virou remoto
A tempestade rega a dor
O vaso: de barro vazio
De nós desatados se enche.

Por voz majestade, a poesia re existe. Re vive.
É grão-semente.
É poema/colete.
Dá o bote. Salve a vida!
Marcus Vinícius presente.

Homenagem da coluna ao escritor, poeta e professor Marcus Vinícius Quiroga – Membro da Academia Carioca de Letras, vítima da Covid-19 em 10 de maio de 2020.

Renata Quiroga é psicanalista, coordenadora de Serviço Social, Psicologia, Psicanálise e Psicopedagogia – PSFP.