Lições antecipadas para a educação. Por Fernanda Campos.

Não é novidade! Há tempos, educadores anunciam a necessidade da transformação da escola, em que os pressupostos sejam a inovação, a criatividade, a colaboração, a autonomia e a aprendizagem ativa. Podemos buscar Dewey, Freire, Frenet, Montessouri, Piaget e Vigostky, só para começar.

A transformação não é sobre o uso das tecnologias para ficar com ‘ares’ de modernidade. Se refere, em especial, às alterações dos papeis dos alunos e dos professores, dos conteúdos, das normas, da organização. É recomendada uma mudança profunda, que também envolva investimento, valorização. Todos sabemos que não é tão simples como pode parecer. São pelo menos cem anos em que se pensa nessas modificações.

Não sabemos quanto tempo será necessário para que a escola consiga acompanhar as próprias transformações sociais e culturais. Muitas vezes os muros institucionais são como fortalezas difíceis de penetrar.

Recentemente, o historiador israelense Yuval Harari nos convidou a pensar nessas mudanças e nas lições para a educação no século XXI em sua obra ’21 lições para o Século XXI’ (Elsinore, 2018). Ele nos instiga a refletir sobre como será a escola do ano de 2050. O que terá se alterado até lá?

Assim como os referidos educadores, Harari aponta a necessidade de uma mudança. Em suas palavras ‘a mudança é a única constante’. E acredita que, em meados do século XXI, o mais importante é a capacidade de discernir informações – entre o que é importante e o que é irrelevante, e mais; combinar vários pedaços de informações para obter um retrato completo do mundo. E em que as competências essenciais são: pensamento crítico, comunicação, colaboração e criatividade.

Então, em 2018, ano da publicação das ’21 lições…’ de Harari, enquanto o autor pensava qual a escola encontraremos em 2050, não se imaginava que, já no ano de 2020 aconteceria uma pandemia que faria tudo mudar.

E essas questões foram antecipadas ao mesmo tempo em que nos trouxeram novas perguntas: – O que será da educação pós-pandemia? Quais as mudanças necessárias para esse momento? Qual a educação que queremos?

O fechamento das escolas por conta da crise sanitária da Covid-19 fez com que as transformações acontecessem de modo urgente. Foi preciso se reinventar. Encontrar outros espaços para ensinar e aprender. O espaço virtual foi encontrado como uma solução. Porém, algumas práticas tradicionais permanecem. E aqueles que não possuem acesso à internet veem-se como um desafio ainda maior. Recorrem às apostilas, às atividades enviadas para os alunos, às teleaulas. As ações têm acontecido muito da maneira que dá e com o que se tem em mãos para se fazer.

Nunca se falou tanto em metodologias ativas, competências e tecnologias na educação.

‘Estará na capacidade de lidar com a mudança, de aprender coisas novas e de preservar o equilíbrio mental em situações novas. Para conseguirmos acompanhar o ritmo do mundo em 2050 será preciso não só inventarmos novas ideias e novos produtos, mas sobretudo reinventarmo-nos a nós mesmos uma e outra vez’ (Harari, 2018, p. 302).

Ainda não estamos em 2050. E a capacidade de reinventar talvez tenha sido uma das certezas de 2020.

As lições previstas por Harari foram antecipadas e entendemos que fazemos o que podemos e com ‘as armas’ que temos em mãos para ajustar, inventar, reinventar e enfrentar uma situação inédita.

Recomendação de leitura: ’21 lições para o século XXI’, de Yuval Noah Harari. Onde encontrar? https://bit.ly/21licoes21

Imagem – https://www.pexels.com/pt-br/foto/crianca-filho-sala-de-aula-educacao-3992949/

Fernanda Campos – Graduada em História, mestre e doutora em Educação e tem dedicado seus estudos e experiências à educação a distância, educação e tecnologias, metodologias inovadoras e Comunicação e Educação. Reside em Lisboa, Portugal. Linkedin: https://www.linkedin.com/in/fernandaaccampos/