HUMANIDADE EM PAUTA - Diversidade: desconstruindo preconceitos. Por Laize Barros.

A palavra “desconstrução” tem sido bastante utilizada para definir o momento que vivemos, de mudanças em nossas referências. Ouvimos homens mencionarem que estão desconstruindo seu machismo ou pessoas com mais de 60 anos discutindo temas como sexualidade mostrando que estão desconstruindo seu olhar sobre a própria velhice.

As empresas têm como objetivo uma boa governança e uma gestão sustentável, o que hoje significa desconstruir preconceitos na conquista dos bons negócios. Isso mesmo! Bons negócios combinam com equidade de gênero e diversidade racial.

Pessoas e empresas têm em comum a necessidade de ampliação de repertório para a transformação de posicionamento e implementação de atitudes e ações.

Nossa presença cada vez mais constante em quantidade nas redes sociais deve avançar para a qualidade de participação, ou seja, nossa comunicação deve ser inclusiva.

– Homem não chora!

O combate ao machismo tem sido cada vez mais comentado como caminho para uma paternidade responsável, como obrigatoriedade na equidade entre os gêneros e para a saúde mental de homens que não suportam mais o estereótipo de heróis sem emoção e de competidores vorazes.

Há grupos de homens sendo formados para levar adiante este debate e mudar formas de pensar e agir. Indico um: Brotherhood – movimento de homens para homens em uma nova visão sobre o sagrado masculino, como assim define seu criador Gu Tanaka – que criou este movimento e é autor de 2 livros: “11 Dias para Despertar” e “Depois do Despertar”.

Você pode saber mais sobre Brotherhood nesta entrevista e mais ainda no site do autor – links abaixo:

Brotherhood & Ancestralidade – Voicers

http://gustavotanaka.com.br

Uma mudança tão grande de paradigmas por vezes exige a participação em um grupo e/ou uma mentoria.

É o que nos diz o professor da universidade de Nova York, Claudio Garcia, em sua coluna no Valor Econômico, Os homens é que precisam de mentoria para mudar: “Somos nós, homens, que precisamos de ajuda. Ajuda, aliás, que não gostamos muito de pedir, já que isso sugere fraqueza, vulnerabilidade, ou algo que não combina com a máscara que aprendemos a vestir ao longo da vida”.

Sabemos que a participação de mulheres nas decisões empresariais e políticas e a ascensão de mulheres a cargos de liderança depende de mudanças estruturais e culturais e que precisaremos do envolvimento de todos nesta transformação.

– Mulher é multitarefa!

O menino indiano Anujath Sindhu Vinayla aos 10 anos ensinou o mundo sobre a importância do trabalho de uma mulher. Ele desenhou sua mãe em tarefas domésticas e demonstrou as muitas atividades exercidas por ela. Seu desenho intitulado “Retrato da mulher que não trabalha” é uma crítica ao não reconhecimento da mulher que realiza tarefas domésticas e tornou-se um símbolo da luta pela equidade entre os gêneros a ser conquistada.

No caso das mães, a mulher que realiza trabalhos domésticos e a mulher que atua no mercado, sofrem com excesso de tarefas e preconceitos como o não reconhecimento social e a ausência de políticas públicas que garantam empregos, creches e escolas para crianças pequenas.

Há múltiplas barreiras ao crescimento profissional de mulheres. São barreiras internas e barreiras estruturais e culturais.

– As barreiras internas são a autoimagem e autoestima, principalmente. A descrença em seu potencial para realizar-se profissionalmente acompanhada de desconhecimento de talentos, habilidades e competências.

– As barreiras estruturais e culturais são as impostas por um certo modelo masculino prevalente que impede a ascensão profissional de mulheres ou cria impedimentos para tal, por vezes sutis, como negar ou intimidar a participação igualitária em reuniões de trabalho e dificultar a promoção ou o exercício de funções de liderança.

Embora estudem mais, as mulheres ganham menos e ainda lutam pela equidade salarial.

Segundo Sally Hegelsen, co-autora do livro “How women rise”, em português “Como as mulheres chegam ao topo”, é principalmente a eliminação das barreiras internas que permite à mulher ocupar uma posição de influência e autoridade. E então as coisas podem começar a mudar!

E para identificar quais são os comportamentos que nós, mulheres, desenvolvemos em nossas carreiras numa tentativa de sobreviver e sermos reconhecidas, Sally propõe que, além de construirmos alianças e apoios, abusemos do poder de dar e receber feedback fazendo uso de perguntas disparadoras.

Escrevi sobre perguntas disparadoras no artigo “Procure primeiro as perguntas”.

Podemos contar com as atuais iniciativas de mentoria de mulher p’ra mulher e de executivas para meninas com objetivo de empoderar as mulheres e derrubar as 3 principais barreiras para a liderança feminina: internas, estruturais e culturais.

Sou mentora no Programa de Mentoria Nós por Elas – com parceria da ONU Mulheres e OIT – criado com este fim que está em sua 6a. edição, impactando a cada edição 300 mulheres.

– Tá velha p’ra isso…

Desconstruindo este preconceito de que idade é barreira para quase tudo, a antropóloga e professora Miriam Goldenberg diz “Velho é lindo! – este é seu “mantra”.

Miriam é pesquisadora do tema e tem lutado pela desconstrução de ideias equivocadas sobre o envelhecimento. Suas colunas bem-humoradas em mídias impressa, Folha de SP, e virtual, UOL, são um convite à reflexão e trazem muitas informações que ajudam a ver a velhice como uma etapa feliz da vida desde que com saúde, equilíbrio financeiro e bons relacionamentos.

Recentemente, a podcaster do “50 crises”, Cris Guerra, quebrou a internet com sua resposta ao episódio “Responsável, do Porta dos Fundos”, com Fabio Porchat. A escritora e produtora de conteúdo digital ocupou seu lugar de fala para desconstruir, item por item, vários preconceitos e desinformações sobre o que é e o que não é envelhecer nos tempos atuais – https://youtu.be/8FbEVSyaRcQ

– Como podemos mudar este cenário?

Como escreveu a escritora nigeriana Chimamanda Adichie no best seller “Sejamos todos feministas”, devemos “educar garotas para que elas tenham mais amor próprio”.

Segundo a ONG Pro mundo, as meninas realizam 40% a mais de trabalhos domésticos que meninos. A desigualdade de gênero começa em casa, se estende para a vida social e se normatiza.

Há necessidade de uma união de esforços que reúna políticas públicas, educação familiar, educação escolar e a conquista de maior igualdade econômica e social que permita oportunidades para todos e todas crescerem alinhando vida e carreira.

Não há uma receita para educar meninas, mas algumas orientações têm se mostrado potentes para o empoderamento feminino e a superação de sexismo. Selecionei 9 orientações para uma educação que cultive a autoconfiança e o amor próprio das meninas:

⦁ Respeite seu modo de ser único;
⦁ Permita que reconheça e expresse seus sentimentos;
⦁ Seja você um exemplo de amor próprio e assuma seus erros e imperfeições e sua capacidade de se levantar após a queda;
⦁ Quanto menos estressante for a vida dos pais menos será a dos filhos;
⦁ Enalteça suas qualidades para além da aparência;
⦁ Crie espaços para que brinque usando a sua capacidade de imaginação;
⦁ Ensine o cultivo da cooperação e não a competição;
⦁ Apoie suas escolhas profissionais e diga que são mutáveis;
⦁ Ensine que ser fraterno muda o mundo;
⦁ Fortaleça as escolhas de estar entre quem a apoia e a admira.

Sobre educar é importante lembrar que a arte muito nos ensina e afeta porque toca os corações, nos emociona e nos faz refletir de forma divertida e prazerosa.

Selecionei dicas de filmes e livros que apresentam histórias inspiradoras que discutem temas como a tolerância, o sexismo, a discriminação, o etarismo permitindo expandir pontos de vista, ampliar repertório e promover empatia.

Filmes em plataformas de streaming, reserve a pipoca!

1. One of us (Netflix): um documentário sobre judeus ortodoxos com foco em histórias de mulheres e de jovens e suas dificuldades de exercer a liberdade de viver e ser quem são de verdade.

2. Vovó saiu do armário (Netflix): uma comédia recheada de desconstrução de preconceitos não apenas sobre etarismo, mas a homossexualidade e os estereótipos sobre família e gênero.

3. Viver duas vezes (Netflix): filme espanhol de 2019 narra a história do professor de Física, viúvo e aposentado, Emilio (Oscar Martínez), que após o diagnóstico de Alzheimer decide ir com sua família em busca do seu amor de infância.

Livros para se divertir e pensar!

1. Pequeno manual antirracista, da filósofa Djamila Ribeiro, pela Companhia das Letras. Um best seller da autora ativista da luta contra o racismo que, neste manual, escreve sobre negritude, branquitude, violência racial, cultura, desejos e afetos.

2.  A diversidade. Aprendendo a ser humano. Livro do filósofo Mario Sérgio Cortella. Para o autor, o estranhamento do outro nos leva a preconceitos e violência, sendo o contraponto, a beleza e a riqueza existentes na diferença.

Mais importante aqui é você se propor a olhar o mundo com novas lentes, conhecer novas e diferentes formas de viver e amar. Espero que aproveite a viagem! E conta p’ra mim o que viu pela janela…

Imagem: Dia Mundial da Diversidade Cultural, UNESCO, 21 de maio.

Eu sou Laize de Barros, ajudo pessoas a alinhar Vida e Carreira com mentorias e cursos. Psicóloga e Mestre em Psicologia e Educação (USP), colunista da Comunidade Marketing da Gentileza e do Observatório da Comunicação Institucional. Escritora das minhas histórias e das que espio nas janelas da vida. @laizedebarros IN IG