EDUCOMUNICANDO - Senso crítico: essencial para a formação de um cidadão pleno. Por Sandhra Cabral.

Uma das causas do O.C.I. é a Educomunicação para a Cidadania. Exatamente por isso convidamos Sandhra Cabral, jornalista e mestre em Inovação na Comunicação de Interesse Público (USCS-SP), para colaborar conosco na coluna desse mês.

De acordo com a pesquisa sobre o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação nos Domicílios Brasileiros (TIC Domicílios 2021), em 2021, 82% dos domicílios brasileiros tinham acesso à internet e boa parte por meio de smartphones.

Isso significa que, cada vez mais, estamos todos em rede, com a possibilidade de produzirmos conteúdo nas mais diversas mídias, para as várias redes sociais digitais existentes e à disposição. Isso nos dá acesso ilimitado a todo tipo de informação 24 horas por dia.

Porém, houve um tempo, antes da internet, em que o acesso à informação era restrito e pelos mais diversos motivos – desde a condição socioeconômica até a possibilidade (ou não) de educação formal.

Quando as novas mídias digitais caíram no gosto popular (no Brasil, a primeira foi o Orkut, em 2004) e houve explosão de portais e blogs noticiosos, a maioria entendeu esta expansão como a verdadeira democratização da liberdade de expressão.

Na época, para alguns pesquisadores, a produção e divulgação de informações de forma desordenada provocaria desinformação e até perda de identidade entre as pessoas de uma mesma comunidade.

Embora os novos formatos de comunicação sejam altamente importantes para a ampliação do acesso e disseminação de fatos, pesquisas e estudos relevantes, é preciso que o consumidor desses conteúdos tenha criticidade para perceber a veracidade (ou não) do que lê, ouve ou vê na internet. Afinal, cidadãos críticos dificilmente são levados a engolir informações duvidosas ou falsas, deixar-se influenciar por elas ou repassá-las como se fossem fatos verídicos.

Mas, como esperar essa percepção da sociedade se nossos formatos de ensino, sobretudo na educação básica, não priorizam a educação para a criticidade?

A educomunicação, por si só, tem esta vocação. Ela pode ser aplicada em todas as fases da educação, do ensino básico ao superior, sem restrições, exatamente por sua natureza de convergência entre as práticas midiáticas – tais como vídeo, áudio, impresso e digital -, e a educação convencional.

E o mais interessante é que a educomunicação não fica restrita à escola em aplicabilidade. É totalmente aderente a movimentos sociais, ONGs, empresas, ou seja, ao mundo corporativo.

Diferencial competitivo

Com as mudanças no mundo corporativo resultantes do período pandêmico, especialmente com o grande volume de informações disponíveis de forma cada vez mais ágil e, parte delas, de procedência não identificada (e com o objetivo de distorcer realidades), a formação da nova força de trabalho e a atualização dos que já estão no mercado são fundamentais.

Nesse sentido o papel do educomunicador dentro das empresas torna-se um diferencial competitivo, já que ele elabora projetos educomunicativos de forma personalizada e os apresenta a empresas, comunidades ou redes de ensino privadas e públicas, a fim de que os mesmos sejam implantados por cada um desses grupos.

Seja como consultor ou como colaborador de uma organização, esse profissional é responsável por articular equipes e facilitar processos para o desenvolvimento de produções midiáticas proprietárias, favorecendo a reflexão e análise de realidades nas quais está inserido aquele grupo organizacional de pessoas, bem como as informações que elas recebem todos os dias.

Nesse momento em que o Brasil passa por tantas incertezas e instabilidades político-econômicas, em que somos bombardeados cotidianamente por fake news travestidas, muitas vezes, como notícias tendenciosas, gostaria de propor uma reflexão a você, leitor: por que não oferecer, por meio da educomunicação, a oportunidade aos nossos estudantes, colaboradores e comunidade de tornarem-se cidadãos plenos, capazes de ser críticos e, consequentemente, éticos?

Sandhra Cabral é CEO e idealizadora do projeto Educar para Ser Grande. Mestre em Inovação na Comunicação de Interesse Público, jornalista, educomunicadora e especialista no desenvolvimento de projetos e redes colaborativas CPV (comunidades de práticas virtuais).