DIVERSIDADE E INCLUSÃO NAS EMPRESAS - Além do tóxico, vivemos na era das relações Chernobyl. Por Jovanka de Genova.

Parece que toda semana, enquanto acompanhamos as redes sociais ou os noticiários, aparece alguma notícia de violência contra mulher. Seja um caso de feminicídio, abuso sexual ou moral, privação de liberdades individuais. Por isso que, na conversa de hoje, quero chamar atenção sobre isso, sobre as sucessivas agressões que as mulheres têm passado desde sempre e tão intensamente nos dias de hoje.

O tipo de violência que mais me impactou, recentemente, é a de homens que não aceitam o fim de um relacionamento e acabam recorrendo a atitudes brutais e violentas contra suas ex-companheiras. E esses ataques acontecem simplesmente por elas serem mulheres. Não importa de onde sejam, a classe social ou a raça. Essa prática de violência é uma marca da nossa sociedade que não é inibida pelas demais características das mulheres e é ainda mais comum do que a gente imagina, já que boa parte delas não é denunciada ou coberta pela mídia.

Mas vamos aos números reais de 2021 que, apesar da subnotificação, são assustadores. De acordo com dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, só no ano passado, o Brasil registrou 1.319 casos de feminicídio, que é quando o crime de ódio acontece com base no gênero da pessoa. Isso significa que uma mulher foi vítima de feminicídio a cada sete horas em nosso país.

Esses dados me fizeram lembrar de um caso muito emblemático, o da Eloá Cristina Pimentel, que, em 2008, foi morta pelo namorado no apartamento de sua família com apenas 15 anos. Quando falei que a violência não escolhe a mulher, isso também inclui idade, porque cada vez mais jovens mulheres, adolescentes e vulneráveis são vítimas de ataques de companheiros ou outros homens da família. No caso de Eloá, novamente, sua vontade foi ignorada quando seu então namorado não aceitou o fim do relacionamento.

A vida é feita de encontros e desencontros, começos e fins. Agora, imagina se, para cada fim de ciclo, uma pessoa tivesse que morrer porque a outra envolvida, por um sentimento egoísta, não consegue conviver com a rejeição ou com um término qualquer. Parece uma situação dramática, mas é o que temos observado quando mulheres, com base em seus próprios direitos diante de suas escolhas, são violentadas por seguirem um caminho que parece ser o melhor para elas naquele momento.

Esses são os relacionamentos tóxicos, ou como uma amiga gosta de chamar, relacionamentos Chernobyl, por serem tão nocivos à saúde das mulheres. Bom, e já que sempre acabamos voltando para o tema da pandemia, também é importante destacar como essas relações cresceram e se intensificaram durante esse período em que as pessoas passaram mais tempo em casa, em uma maior convivência entre familiares, amigos e namorados. Afinal, essas relações abusivas nunca deixaram de existir.

Ainda com os números do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, nos primeiros meses de 2020, quando a pandemia de Covid-19 iniciou, houve uma grande queda no número de registros de estupros no país. O que, na visão da instituição, sugere que essa redução esteja relacionada com a dificuldade das mulheres de irem até alguma delegacia fazer Boletins de Ocorrência do crime. Tanto que, após abril de 2020, mês em que as medidas de isolamento são as mais rigorosas em todo o Brasil, há uma retomada nos casos de estupro, que permanece em 2021, quando foram registradas 56.098 queixas.

Os números dessa pesquisa são apenas a ponta do iceberg do problema. Neste cenário de tantos crimes contra as mulheres, na semana passada, dia 8 de agosto, a Lei Maria da Penha comemorou 16 anos de existência. São quase duas décadas de uma legislação que busca proteger as mulheres, porque elas ainda morrem por serem mulheres. E, para celebrar essa data, a ONU lançou ainda uma nova campanha chamada #ParaCadaUma, com o intuito de alertar sobre cada violência a que elas são submetidas (psicológica, moral, patrimonial, sexual e física), de forma a serem reconhecidas para, então, serem combatidas.

Lembra-se daquele ditado “em briga de marido e mulher não se mete a colher”? Pois bem, é diante desse contexto que mais brigas acontecem e menos mulheres sobram para contar a história. Em uma situação de violência, seja ela qual for, é papel de todos – isso inclui homens e mulheres – lutar para que ela acabe e não volte mais a acontecer. A luta é dos homens ao educar seus filhos, ao alertar um amigo sobre uma situação desrespeitosa com uma mulher, ao repensar certas atitudes que possam machucar outras pessoas. Afinal, são os homens que mais cometem esses casos de violência, então é impossível falar sobre o seu fim sem incluir os principais responsáveis.

Todos são livres para fazer suas próprias escolhas e os homens precisam entender que as mulheres fazem parte desse todo, que são pessoas livres como eles, seja no ambiente privado dentro de casa, nas relações pessoais e familiares, seja nas empresas, em contextos corporativos, de liderança ou não. É papel de cada um fazer com que nós, mulheres, possamos tomar nossas próprias decisões, o que inclui terminar um namoro ou propor uma ideia no trabalho, por exemplo. O respeito precisa vir de todas as esferas. Esse é o único jeito de acabar com esses tais relacionamentos Chernobyl.

Fonte: https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2022/03/violencia-contra-mulher-2021-v5.pdf

Jovanka de Genova é educadora e gerente de educação, com mestrado em Educação, Arte e História da Cultura, e com mais de 17 anos de atuação na área de comunicação organizacional e educação corporativa, em especial na gestão de cursos e soluções educacionais. No LinkedIn: www.linkedin.com/in/jovankadegenova.