COMUNICAÇÃO PÚBLICA E GOVERNO DIGITAL - Linguagem Simples como condutora do acesso aos serviços digitais. Por Renata Ribas.

A transformação digital de serviços públicos é centrada em ações para simplificar e facilitar a vida dos cidadãos. Com o serviço digital busca-se evitar filas, reduzir deslocamentos desnecessários, diminuir os custos e a burocracia. É a tecnologia sendo usada para trazer o governo para a palma da mão, com acesso rápido às interações que precisamos ter com o Estado. São diferentes pessoas, com diferentes culturas e escolaridades, que precisam entender onde e como encontrar a solução para suas necessidades como usuárias de serviços públicos. Nesse contexto, a Linguagem Simples, que não é apenas uma técnica de comunicação, mas também uma causa social, como defende a pesquisadora e maior referência brasileira da área, Heloísa Fisher, se torna fundamental para a comunicação em Governo Digital. “Temos o direito de entender as informações que orientam o nosso cotidiano”, afirma Fisher.

Com a digitalização dos serviços, o Estado busca se aproximar do cidadão e facilitar o acesso às políticas públicas por meio da tecnologia. E a Linguagem Simples entra aqui como condutora dessa acessibilidade, fazendo com que os textos informativos sobre aqueles serviços sejam o suporte para que a interação aconteça da melhor forma possível. De fato, a agilidade que o meio digital proporciona pode sim esbarrar em um texto truncado, mal elaborado e que torne a experiência do usuário negativa.

Se o objetivo do Governo Digital é reduzir a burocracia para o cidadão na sua experiência de relacionamento com o governo, também temos que reduzir o “burocratês” dos nossos textos institucionais, das descrições dos serviços nas páginas da internet, dos documentos e guias orientativos e, claro, nos conteúdos que publicamos nas redes sociais. Precisamos cada vez mais tornar a comunicação mais fluida, direta, fácil e empática. Para isso, conhecer a Linguagem Simples e aprender técnicas que possam auxiliar na produção de textos mais acessíveis podem nos guiar nessa mudança. O objetivo é tornar a jornada do cidadão em busca de respostas do Estado muito mais simples e agradável.

Essa inovação na linguagem ainda é um grande desafio para toda Administração Pública. Estamos ainda, no geral, muito acostumados com os jargões técnicos das nossas áreas e enraizados nos modelos tradicionais de relatórios e notas técnicas. Mas a boa notícia é que tem muita gente trabalhando para mudar essa realidade, com iniciativas muito bem-sucedidas do uso da Linguagem Simples como inovação em governo. Em São Paulo, temos as experiências pioneiras do (011).lab – Laboratório de Inovação em Governo, da Prefeitura de São Paulo. A equipe paulista foi responsável por implantar o primeiro Programa Municipal de Linguagem Simples no país para disseminar a técnica.

No Ceará, temos o Íris – Laboratório de Inovação e Dados -, que vem fazendo um trabalho muito valoroso do uso da Linguagem Simples como parte da política pública de governo digital do estado. O Irís atua no engajamento dos servidores públicos para que assumam uma postura empática em relação à população e produzam textos mais compreensíveis no meio digital. O laboratório disponibiliza vários materiais interessantes para auxiliar nesse processo. Entre eles, os “10 Passos para escrever em Linguagem Simples”. [Link: https://drive.google.com/drive/folders/1m-kYk2cJxdmLIOfnD6Sg4V6Q0T3BM2LL].

A informação pública só é acessível se a pessoa consegue compreendê-la e o Governo Digital só se concretiza na palma da mão do cidadão se ele consegue entender o que ele lê no aplicativo ou na plataforma de serviços. Daí, a importância de abraçarmos o movimento da Linguagem Simples em toda a política de transformação digital. Só assim vamos avançar para tornar as nossas ações de comunicação mais inclusivas, transparentes e efetivas.

Renata Ribas é graduada em Jornalismo pela Universidade Católica de Brasília e em Letras-Inglês pela Universidade de Brasília. É especialista em Comunicação Corporativa, Planejamento e Gestão pela Universidade Cândido Mendes. Ingressou no serviço público federal em 2006 como assessora da Diretoria Colegiada do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes. Em 2011, iniciou sua trajetória na Assessoria de Comunicação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), onde coordenou projetos estratégicos de comunicação interna e externa. Desde junho de 2021, é assessora de comunicação da Secretaria Especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital do Ministério da Economia, atuando na comunicação estratégica das ações de transformação digital de serviços públicos.