A pandemia trouxe lições em diversas instâncias, mas penso que a principal foi repensar nosso comportamento em sociedade. Parece-me que estamos perto de compreender que as informações conflitantes, assim como a falta de um discurso uníssono para mobilização, fizeram a epidemia crescer e se transformar em uma pandemia com escala assombrosa.
Para travar – e vencer – o bom combate contra o Covid-19, como diria o poeta, é mister o casamento entre mobilização da população e comportamento individual socialmente responsável. Não fizemos nada disso. Enquanto uns diziam que era uma gripe tola, outros falavam em tomar cuidado e respeitar a quarentena. Muita gente que viajou para áreas em alerta (como China e Itália no começo da pandemia, por exemplo) não se protegeu como deveria e não cumpriu o isolamento.
Como especialista em crises, venho peremptoriamente afirmando que não adianta brigar com o vírus. Não temos controle e não podemos impedir que aconteça. Trata-se de uma pandemia, ou seja, é uma crise cuja causa é natural. Não podemos impedir, mas podemos nos prevenir e criar estratégias para controlar os danos e diminuir os impactos sociais e econômicos.
Os estudos de prevenção na área médica, bem como a gestão de processos em hospitais, sabem como separar quadros no que tange a gravidade e contágio. Existem protocolos para atendimento e tratamento de doenças infectocontagiosas.
Nos últimos anos, a prevenção de desastres e propagação de doenças evoluiu consideravelmente, pois temos pesquisa e protocolos detalhados. Na área de desastres naturais, como terremotos e furações, por exemplo, temos monitoramento via satélite, comunicação via rádio, alarmes e até aplicativos para as pessoas acompanharem em seus dispositivos móveis.
Sabia que existem planos de prevenção específicos para epidemias e pandemias? As estratégias foram implementadas para controlar a Epidemia do Ébola (2013) e H1N1 (2009), por exemplo.
A pesquisadora Laurie Garret publicou, em 2006, o artigo ‘A próxima pandemia’. Ela escreveu: ‘Em termos econômicos, a pandemia teria também um efeito devastador, já que o CDC teria predito que uma epidemia de nível médio poderia chegar facilmente a custos de cerca de 166 milhões de dólares, sem levar em conta os decorrentes de vacinações. O número de mortos em uma situação como esta foi estimado em cerca de 207 mil, mas podendo chegar a quase 800 mil’.
Outros pesquisadores também alertaram que o coronavírus vinha mudando e que a próxima versão poderia ser pior que o H1N1. Se os especialistas já sabiam, o que houve? Elementar, meu caro. Não foram cumpridas as orientações. A gestão da comunicação e a divulgação dos procedimentos falharam.
Apesar das notícias falsas e falta de um discurso compartilhado por parte das autoridades e dos governos, as medidas preventivas contra novo coronavírus tiveram efeito notório. O uso da máscara e a higienização apresentaram impactos interessantes. Vários veículos de imprensa já noticiaram que as mortes causadas por outras doenças respiratórias diminuíram na pandemia. Os casos de outras viroses também tiveram redução expressiva.
A prevenção para evitar a Covid-19 teve impacto na incidência de alergias e outras viroses. Destarte, conclui-se que é preciso repensar nosso comportamento em relação às alergias, gripes e outras viroses. Sair de casa sem cuidado e proteção propaga gripes e outras doenças infectocontagiosas. Intensificar os cuidados para evitar alergias deve ser permanente independente da pandemia.
Como cidadã e pesquisadora em gestão de crises, o grande aprendizado é que precisamos de uma comunicação efetiva para mobilizar corretamente as pessoas. A prevenção de doenças e protocolos para enfermidades é importante e existe o perigo iminente de outras doenças. Provavelmente teremos que fazer muitas campanhas educativas. Por outro lado, urge uma reflexão individual em relação à nossa efetiva contribuição em um momento que é crucial pensar no coletivo.
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Ilka Carrera é relações-públicas, mercadóloga e professora. Mestre em Administração, especialista em Marketing e graduada em Comunicação. Atua nas áreas de comunicação e marketing há 20 anos. Realiza consultorias em gestão de crises, comunicação e marketing há dez anos. Docente desde 2004 nas principais instituições de ensino superior. Administra recém-lançada página no Facebook e Instagram (@crisesecrises).