Do LinkedIn de Wilson Costa Bueno. Comentário: Manoel Marcondes Neto.

Um elefante incomoda muita gente. Os fanáticos pela IA assustam muito mais.

Os desenvolvedores de aplicações de inteligência artificial generativa estão excitadíssimos, buscando, a todo custo, convencer-nos de que a solução para todos os nossos problemas finalmente chegou. Felizmente, muitos estudiosos e profissionais que têm como missão analisar criticamente as novas descobertas no universo da ciência, tecnologia e inovação, estão atentos a esse movimento e nos alertam para as consequências de uma utilização não responsável.

Não devemos demonizar as aplicações de IA, mesmo porque elas já se incorporaram à nossa rotina pessoal, acadêmica e profissional, mas, como prega o ditado, muito devagar com o andor que o santo é de barro. Nada de afoiteza ou de oba-oba, porque, assim como os medicamentos, a tecnologia provoca efeitos colaterais.

É fundamental denunciar um movimento, denominado genericamente de “aceleracionismo”, que se consolida no Vale do Silício, onde predominam as chamadas big techs, e que prega a adesão urgente e acrítica à IA. E proclama ruidosamente que a IA vai nos brindar com um novo mundo, onde todos os problemas serão resolvidos, seja o impacto das mudanças climáticas, seja a cura milagrosa de doenças ou mesmo a solução de complexos processos organizacionais.

Os representantes desta “ideologia” não conseguem enxergar os riscos de aplicações abusivas, a existência de interesses globais gigantescos que as disseminam porque lucram muito com ela, e do seu impacto, que pode ser dramático.

É dever de todos os cidadãos conscientes chamar a atenção para as intenções subjacentes a esta ideologia porque ela pode nos colocar diante de riscos ainda incalculáveis que, inclusive, afrontarão a democracia e a sobrevivência humana.

Você já ouviu com certeza aquela argumentação falaciosa, utilizada por muitos personagens brasileiros, que defendem a tese de que impor limites à tecnologia representa atentado à liberdade de expressão.

A IA deve merecer regulação imediata e abrangente porque potencializa aplicações que podem fugir ao nosso controle, gerando “frankensteins” tecnológicos indestrutíveis, desenvolvidos em laboratórios.

A IA pode contribuir (e já contribui) para gerar soluções que impactam positivamente a nossa rotina de trabalho e a nossa vida, mas não pode ser objeto de uma “liberação geral” ou de um fanatismo que defende a sua utilização sem limites.

Não vamos acelerar. Muita calma nessa hora.

Os carros têm limite de velocidade porque há lugares em que não podem trafegar a 100 quilômetros por hora sem causar desastres fatais. A venda de armas deve ser regulada para que elas não caiam em mãos de facções e pessoas tresloucadas. As aplicações de IA também devem ter limites.

O aceleracionismo gera condutores embriagados pela tecnologia e respalda milícias digitais que precisam ser vigiadas o tempo todo. Se for o caso, a sociedade deve impedir seus adeptos de dirigir, cassando agora a sua carteira de habilitação. Vamos nessa?

COMENTÁRIO

Antes, a inteligência natural. Depois, a artificial!

“Alguém descobriu a água, e não foi o peixe”. A frase atribuída a Marshall McLuhan, papa particular da Comunicação – dá a deixa para um singelo toque:

– Muito cuidado com o ‘frenesi digital’!

O mundo continua povoado de pessoas cada vez mais necessitadas de contato humano em contraponto à imposição ‘pós-pós-industrial’ que a tecnologia da informação vem pautando.

A inteligência natural de bilhões (de seres humanos) deveria receber investimentos maciços de bilhões (de reais, de dólares, de euros) ANTES da artificial.