Do LinkedIn de Wilson Costa Bueno. Comentário: Manoel Marcondes Neto.

Deu hoje no LinkedIn do Prof. Wilson Costa Bueno:

Os fantasmas que rondam a imprensa brasileira assombram a nossa democracia.

Os fantasmas de sempre continuam assombrando a imprensa brasileira. De um lado, a concentração abusiva dos meios de comunicação compromete a liberdade de expressão, marginalizando sobretudo aqueles que já não têm vez e voz. De outro, a cobertura tendenciosa de temas relevantes, inspirada em compromissos comerciais e em uma perspectiva conservadora, desvia a atenção sobre a escandalosa desigualdade social e a badalação aos poderosos.

Neste cenário nada republicano, o esforço inútil de trancar os esqueletos (sociais, econômicos, ambientais) dentro do armário se contrapõe à desfaçatez da maquiagem, bancada por grandes interesses e instrumentalizada por agências e assessorias que têm acumulado hipocrisia e “know-how” no processo de limpeza de imagem de empresas predadoras.

As práticas do marketing infantil e do marketing verde, da autopromoção de governos e autoridades, correm soltas pela mídia, muitas vezes abrigadas no chamado “jornalismo patrocinado” e no “jornalismo de marca”, fantasmas modernos, realmente assustadores para quem defende o jornalismo ético, investigativo e independente.

A mídia abre espaço para a apologia dos agrotóxicos, vendendo-os como “remedinho para planta” e ignorando o fato de que se constituem em veneno, como se pode depreender dos estudos e pesquisas da Anvisa, da Fiocruz e das melhores universidades brasileiras. A indústria do tabaco vende, cinicamente, o cigarro eletrônico como alternativa “saudável” para o cigarro tradicional. A Braskem quer se isentar da tragédia em Maceió e madeireiras lavam as mãos diante de crimes ambientais e do trabalho escravo.

A mídia frequenta os eventos empresariais, que têm como objetivo vender produtos, serviços e difundir seus compromissos hipócritas com os direitos humanos, meio ambiente, responsabilidade social e a promoção da diversidade e inclusão. Pior: jornalistas e veículos “a serviço de” nem se mostram corados quando participam dessa farsa comunicacional. Felizmente, colegas com coragem e ética, a Fenaj e sindicatos têm denunciado estas práticas.

Para enfrentar estes fantasmas, urge transformar o processo de formação dos jornalistas, que, em muitos casos, se limita ao “adestramento técnico” e ignora, de forma omissa, os compromissos da imprensa com o poder político e empresarial.

É preciso destacar que há recursos mais eficazes do que o “lead”, os “releases”, as “pirâmides invertidas” e a falácia do jornalismo informativo, objetivo e imparcial (tem gente ainda insistindo nessa tese como se os veículos estivessem realmente identificados com a isenção da informação!).

Muito cuidado com as fontes empresariais e políticas que assediam as redações, disseminando conceitos, práticas e produtos nefastos que as tornam reféns de interesses poderosos. É imperioso combater os fantasmas porque, na verdade, eles assombram a democracia. Que tal estarmos juntos e darmos um baita susto neles?

COMENTÁRIO

Convite aceito, professor! Endosso inteiramente as suas constatações e preocupações.

Como ativista – no Observatório da Comunicação Institucional -, aplaudo (mais) esta sua corajosa manifestação e alisto-me ao lado daqueles que acreditam ser ainda possível recuperar uma formação melhor no campo da Comunicação.