Do LinkedIn de Wilson Costa Bueno. Comentário: Manoel Marcondes Neto.

Deu hoje no LinkedIn do Prof. Wilson Costa Bueno:

O espaço que a imprensa reserva aos “leitores” revela facilmente com quem ela tem realmente o rabo preso.

Você já percebeu que muitos jornais cedem, prioritariamente, o espaço das cartas (hoje, a maioria são e-mails ou comentários nas mídias sociais) para leitores que elogiam os seus colunistas e as reportagens publicadas e falam mal dos governos, políticos e autoridades. Em muitos casos, podemos identificar facilmente, entre os que assinam os comentários, pessoas conhecidas, em particular políticos, empresários e mesmo jornalistas e assessores de imprensa.

O espaço para a expressão livre da audiência é, na verdade, um mito em nosso país porque os veículos selecionam os comentários que merecem publicação e, evidentemente, fazem o filtro que lhes interessa. Eles colocam, por exemplo, para debaixo do tapete aqueles que dizem respeito às próprias mazelas dos veículos. Eles não publicam comentários que tecem críticas à linha editorial, especialmente quando se referem aos compromissos e favores com o mundo político e os anunciantes. Eles não divulgam comentários que expõem seus furos na cobertura ou que denunciam fake news que os veículos difundem.

A interação assumida pela mídia brasileira é aquela que lhe dá lucros, como os telefonemas pagos para votações em reality shows, vide “A Fazenda” e o “Big Brother”.

A pluralidade de vozes e opiniões não é mesmo uma virtude da imprensa brasileira e essa situação pode também ser percebida em outros espaços da mídia, como nas colunas tipo “tendências e debates”, que ficam restritas a pessoas que já têm vez e voz na sociedade (políticos, empresários, advogados, jornalistas) e que ocupam lugar de destaque.

Mais ainda: esta restrição também é de gênero. Se você prestar bem atenção verá que as mulheres escrevem pouco para os veículos (cartas e e-mails) ou se manifestam raramente nos artigos dos colaboradores externos. Alguém pode argumentar que se trata de uma questão cultural, mas os veículos, que não ignoram este fato, poderiam estimular a participação. O certo seria convidar mulheres para o debate e não apenas aceitar opiniões de políticos e empresários homens, mas esta atitude machista é uma tônica na mídia brasileira. Se fôssemos aprofundar ainda mais, veríamos que, entre os homens, teríamos também a prevalência dos brancos, dos ricos e dos famosos.

A mídia dá espaço para quem já tem espaço e promove, com isso, uma autêntica exclusão social. Temos uma mídia machista, elitista e cheia de outros “istas”. Temos até a mídia vigarista, que não passa de um balcão de negócios!

A mídia critica o machismo, o racismo e outros “ismos” no STF, nos ministérios e nas secretarias de Governo como se ela fosse um exemplo de diversidade e de inclusão no processo de gestão de pessoas.

É preciso repudiar estes vícios éticos porque eles comprometem a cidadania. A imprensa gosta mesmo é de autoelogio. E, como ouvia sempre na minha terra, a querida Ribeirão Preto, “elogio em boca própria é vitupério”.

COMENTÁRIO

Quando um professor como Wilson Costa Bueno, presença frequente na bibliografia de inúmeras dissertações e teses, faz este tipo de reflexão, muitos – na imprensa -, sobretudo os que foram seus alunos, deveriam colocar a mão na consciência (ou as barbas de molho), pois o público (ah… o público…) haverá de descobrir as falácias e pastéis de vento que a mídia lhe impõe, todo santo dia.

Como escreveu Norbert Wiener, pai da disciplina Cibernética, “… mais e mais, vemo-nos obrigados a aceitar um produto padronizado… que, pasteurizado como o pão branco das padarias, é assim produzido antes devido às suas propriedades de conservação e venda que ao seu valor alimentício” (MACHADO NETO, M. M. Relações públicas e marketing. Ciência Moderna, 2a. edição, 2016. P. 91).