Deu hoje no LinkedIn do Prof. Wilson Costa Bueno:
A transparência na comunicação não tolera ações ilegítimas de limpeza de imagem.
A comunicação contemporânea escancara, muitas vezes de maneira contundente, a disposição de muitas empresas de aderir ao processo de “limpeza da imagem”, mesmo em relacionamentos estratégicos como aqueles que mantêm com seus investidores/acionistas. Isso significa que lhes falta uma cultura de comunicação respaldada na transparência, ou seja, elas preferem optar por estratégias de manipulação e sonegação de informações que preservam os seus próprios interesses.
O esforço para manipular a opinião pública pode ser observado concretamente em inúmeras atividades de comunicação, mas podemos destacar, de imediato, duas delas.
A primeira diz respeito ao relacionamento com a imprensa que concentra parte significativa da interação de uma organização com a sociedade. Muitas empresas julgam, equivocadamente, que os veículos e jornalistas devem ser utilizados apenas para a divulgação de suas “boas notícias”, comprometidas com o autoelogio e uma falsa narrativa.
A segunda atividade é a comunicação interna que, em muitas empresas, está ancorada em uma gestão e uma cultura autoritárias, que não convivem harmoniosamente com a diversidade, o embate de opiniões, a participação espontânea e o desenvolvimento pessoal e profissional.
Os relatos dramáticos de funcionários (eufemisticamente denominados de colaboradores) remetem quase sempre a ações truculentas, ao assédio moral, ao estrangulamento de iniciativas para promover a livre circulação de informações e à manutenção de um clima não saudável.
Muitas empresas continuam, em boa parte, praticando a tese “de quem pode manda e quem tem juízo obedece”, sufocando a liberdade de expressão, punindo aqueles que ousam expressar suas divergências e literalmente expulsando dos seus quadros centenas de jovens talentosos que não se curvam à truculência de chefias incompetentes.
Ainda bem que há exceções, mas elas, na verdade, apenas confirmam a regra, um panorama triste para o século XXI que se caracteriza pela agilidade e instantaneidade dos relacionamentos e que postula equidade, justiça social e compromisso com a qualidade de vida.
É fundamental vigiar os veículos jornalísticos que acolhem esta farsa informacional com o objetivo único de aumentar a sua receita. A cumplicidade de parte da mídia, que prioriza apenas o aumento de sua receita, estimula o uso de estratégias não éticas como o “jornalismo” patrocinado e legitima desvios inaceitáveis na prática do chamado “jornalismo de marca”. É indispensável enxergar além da noticia.
Urge identificar e denunciar os maus exemplos e, ao mesmo tempo, valorizar as empresas comprometidas efetivamente com a ética na comunicação e o respeito ao interesse público.
A transparência na comunicação exige mobilização ampla e imediata da sociedade e da imprensa responsável. Já passou a hora de retirarmos as máscaras que ocultam as verdadeiras intenções de empresas predadoras. Vamos nessa?
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COMENTÁRIO
Caríssimo professor,
Mais um acerto seu, na mosca!
Quando os cursos de Jornalismo (vou manter o “j” maiúsculo por ora) começaram a difundir a ideia de que seus egressos seriam genéricos “produtores de conteúdo” e as empresas – anunciantes – começaram a contratá-los diretamente para produzir branded content, papéis profissionais se confundiram.
Quando professores de jornalismo (aqui já não deu para manter o “j” maiúsculo por conta de figuras – minúsculas – que conheci nesta função) começaram a incutir a atual noção de “narrativa” (storytelling) na cabeça de seus alunos, a coisa toda piorou e apareceu o tal “jornalismo de marca”. Publicitários que se cuidem…
Nas Redações, ninguém mais pensa. Só vale o posicionamento da empresa jornalística. Fatos? Que fatos? O que importa é a versão que agrada o patrão. Testemunhas? – Ora, saiam à rua e tragam “essas” aspas, aqui, tá? Encontrem alguém que diga isto! – E o outro lado? – Ora… olhem para o lado se tiverem que atravessar alguma rua….