Tráfego pago e exaustão nossa: das preocupações a atentar. Por Liana Merladete e Maria Ivete Trevisan Fossá.

Como todo mundo, em momento de pausa, nós nos vemos, frequentemente, com os celulares em mãos, num significativo tempo a consumir conteúdo nas redes sociais virtuais e, para além da condição de relações-públicas, nos colocamos enquanto consumidoras – e consumidoras exaustas da intromissão da propaganda.

São anúncios sem fim… E o pior: agora, mais do que nunca, parecem ser – todos – mais do mesmo. Algumas ditas estratégias, afinal, são replicadas constante e generalizadamente. A estrutura parece uma receita-padrão, só mudam os segmentos, a mensagem central – o resto é igual. Isto não encanta, cansa!

A verdade, precisamos ser honestas, é que a profusão de tráfego pago nas redes sociais pode ser prejudicial de várias maneiras. Nós não o refutamos, mas propomos uma análise crítica sobre. Ele pode ser nocivo tanto para os consumidores quanto para o ecossistema digital como um todo. Um dos principais problemas é a saturação – está mais do que na hora de admitir. Quando o espaço digital é dominado por conteúdo pago, isto leva a uma superexposição de anúncios e mensagens de marketing, o que, por sua vez, pode causar a nossa fadiga enquanto consumidores. Ou será que só nós estamos nos tornando insensíveis ou mesmo hostis a essas mensagens? Temos certeza de que não. Não somos as únicas. Percebemos uma redução da eficácia dessa forma de publicidade digital.

Além disso, precisamos pontuar as questões de autenticidade e de confiança. Quando estamos em um ambiente digital em que o tráfego pago é excessivo, cremos que, cada vez mais, se torna difícil para os usuários discernirem o conteúdo genuíno do patrocinado. Mas o que mais nos toca vem de uma reflexão que acompanhamos de um exemplar estudioso e doutorando de Propaganda do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal de Santa Maria. Ele comentava, em seu Instagram, sobre sua preocupação frente a um delicado momento de desinformação vivenciado pela sociedade acerca da produção de criativos que imitam estéticas noticiosas. Não é para menos. Nós vemos proliferar anúncios fantasiados de manchetes do G1 e afins todos os dias.

Lucas Schuch, em seus stories, provocava-nos para a reflexão de como é possível uma rede derrubar uma foto de um mamilo feminino mas não ser capaz de fazer o mesmo com criativos que simulam uma verdade infundada. Refletir sobre o que ele colocou nos faz, de igual forma, questionar o porquê de não podermos, não raras vezes, admirar uma imagem que é arte e sensibilidade – como a de uma mãe amamentando -, mas termos de ver, a todo instante, empresas se travestindo de veículos com “manchetes” inventadas.

Um dos pontos que trazemos à baila é um preceito além do estético, o ético. Sabemos que são incontáveis os cursos livres que preparam os ditos especialistas para a produção criativa e para todo o escopo que envolve o tal tráfego pago mas, talvez, por mais tradicionais que sejamos, cremos que faz imensa falta a ta disciplinas “Ética” que se vê nas faculdades. O posicionamento comercial que refuta a transparência corrói a confiança das plataformas e das marcas que as utilizam, pois os usuários podem começar a questionar a veracidade e a integridade do que vêem online.

Do ponto de vista das Relações Públicas, a dependência excessiva do tráfego pago pode prejudicar a construção de relações orgânicas e significativas com o público. Relações Públicas eficazes são construídas sobre a autenticidade e a construção de confiança a longo prazo. Isto, destacamos, é algo que o tráfego pago em demasia pode minar.

Precisamos ir além. Quando temos uma dimensão social do que estamos vivendo, conseguimos ponderar que o tráfego pago excessivo pode contribuir para um ambiente online onde as vozes mais ricas e poderosas são as mais ouvidas, marginalizando as pequenas empresas e os indivíduos que não têm os mesmos recursos para competir.

Não é porque chamamos a atenção que não consideramos o tráfego pago uma ferramenta importante e valiosa, mas clamamos por bons profissionais na gestão disto. É fundamental que os profissionais relações-públicas estejam envolvidos minimamente – para consultoria que seja -, a fim de sugerir a usabilidade dessa estratégia com cautela, garantindo que a integridade e a autenticidade permaneçam no cerne de suas campanhas.

Pensemos!

Liana Merladete é relações-públicas, empreendedora na área de Educação & Comunicação e Entretenimento Geek. Professora universitária, MBA em Gestão de Negócios, tem formação em Empreendedorismo e Coaching de Carreira, mestre em Tecnologias Educacionais em Rede, doutoranda em Comunicação, e é membro do Grupo de Pesquisa Comunicação Institucional e Organizacional (POSCOM/UFSM/CNPq). Neste texto, conta com a parceria da sua orientadora de Doutorado, Maria Ivete Trevisan Fossá, relações-públicas, doutora em Administração, professora titular da Universidade Federal de Santa Maria, a qual tensiona a Cultura Organizacional como recurso vital para uma apropriação ética no midiático tecnológico em processos estratégicos comunicacionais.