Por que você deveria abandonar o que te trouxe até aqui: a sua mentalidade de marketing. Por Neire Castilho.

A maior dificuldade que eu enfrento, como empreendedora e publicitária, acredite, não é a crise crônica do país, nem as pandemias que vêm e vão, muito menos a situação econômica do meu estado, nem o preço da gasolina ou do etanol, ou a vocação do município onde eu moro. A minha maior dificuldade é a mentalidade do meu cliente.

Tem uma frase assim: ‘é mais difícil convencer alguém de que ele está sendo enganado do que efetivamente enganar esse alguém’. Isso é fato. Eu, sinceramente, não entendo porque as pessoas acreditam em promessas milagrosas. Por mais que elas digam que procuram por profissionais analíticos, são aqueles que apelam para a vaidade do humano imperfeito que existe em todo empresário que consegue arrancar o precioso dinheiro dele. E a publicidade, em mãos erradas, é uma isca de ouro para fisgar os afoitos.

O desespero, também, é prato cheio para os oportunistas. Quando eu tinha agência, uma das razões que me fizeram criar um novo modelo para oferecer o meu trabalho foi a dor em perceber que meu negócio crescia com a crise. É, mais ou menos isso; você ganhar dinheiro com a miséria alheia. Aí, o dinheiro não frutifica. Ele aparece e você gasta, nenhum ciclo virtuoso se inicia. É aquela sensação de comer e continuar com fome.

Era só a economia sofrer uma retração que apareciam os desavisados, em busca de uma fórmula mágica para vender, ou seja, uma promoção ilusória, uma Black Friday onde tudo é generosamente oferecido pela metade do dobro do preço. E o pior, é que a maioria acredita que é assim que as coisas funcionam. Que o Steve Jobs ficou rico assim, que o guru que vende cursos na internet ensinou assim, que o concorrente está ‘nadando’ no dinheiro fazendo assim, assado… e por aí vai.

Comunicação publicitária vende. Porém, uma linha de comunicação é uma fórmula exclusiva que só tem efeito para quem acredita em si mesmo. Acredita? E acreditar em si mesmo é uma das coisas mais difíceis nos dias atuais. Estamos nos comparando o tempo todo.

Existem os publicitários obsessores de clientes, não apenas, empresas obsessoras de mercado, sabia? O modelo de agência está com os dias contados, basicamente, porque obsessor e obsidiado não se elevaram. Mantiveram-se na relação destrutiva de se retroalimentar, mutuamente, de suas próprias fraquezas.

Quem migrou da propaganda para o branding, como eu, entende que a marca carrega valores essenciais para a construção de uma relação forte com o mercado. Porém, estamos falando de plantio e colheita, e não de extrativismo. Não é arrancar o dinheiro do consumidor porque você precisa vender, é oferecer, em troca da sua fidelidade, o cuidado e a presença acolhedora de uma relação. É preciso planejar o plantio; a época certa, analisar o solo, selecionar as sementes para garantir uma colheita satisfatória, e isso leva tempo.

Eu entendo que toda linguagem é estratégica, dessa forma, não acredite mais em expressões como ‘explorar mercado’, ‘público-alvo’, ‘marketing de guerrilha’… que funcionavam para empresas predadoras, que ainda vivem de empurrar produtos e não de atrair compradores (existe uma diferença gritante aí). É hora de ver o consumidor como parceiro, o concorrente como mentor e o produto… bem, o produto não pode mais ser visto como PRODUTO, sinônimo de PREÇO, mas como PROPOSTA, sinônimo de VALOR.

Se vender expectativas irreais virou negócio é porque ainda existem empreendedores com necessidades ilusórias, aquelas que não pagam contas, que não retêm talentos, que não atraem pessoas. E por falar em pessoas, sim, estamos lidando com pessoas. Portanto, é hora de entender que você não está protegido na sua fortaleza empresarial, imune às mazelas causadas pela sua própria negligência. Você é responsável, sim, pela saúde mercadológica da sua empresa e, se continuar tomando decisões baseadas na vaidade, no empirismo, no modelo pronto, na opinião alheia, ou, simplesmente, não tomar decisão alguma, a sua marca não tem chances de sobreviver no século XXI.

Imagem: Mindset.

Neire Castilho é empreendedora, publicitária estrategista de marca e professora mestre em Educação. Fundadora da Orientte Estratégias Comunicacionais. Pesquisa e identifica o verdadeiro propósito das empresas e transforma esse valor em comunicação para a marca. Profissional com mais de 20 anos de experiência na elaboração e implementação de planos de estratégicos de Marketing e Comunicação Publicitária, trabalha por um mundo onde o suficiente seja abundante para todos.