Metaverso muito além dos 'games' e avatares. Por Juliana Callado Gonçales.

Quando a internet surgiu ninguém acreditava na grande influência que ela teria na nossa vida. Hoje é quase impossível viver sem ela. A tecnologia evolui dia a dia e cada vez mais se mostra como um ambiente interativo e imersivo.

O metaverso é a evolução da internet e propõe uma maior união entre a realidade física e virtual, que promete trazer grandes mudanças no nosso sistema de comunicação e interação, sendo que poderá ser acessado através de dispositivos e plataformas diferentes.

As vultuosas somas de investimentos no metaverso demostram o seu potencial. O Facebook, agora denominado Meta, a Nike, a Microsoft, entre outras gigantes, já estão desenvolvendo uma série de produtos e serviços para ser explorado nesse espaço.

É importante esclarecer que o metaverso não é uma novidade, muito menos uma criação de Mark Zuckerberg, embora a Meta seja proprietária da plataforma Oculus, que tudo indica que será uma das principais bases desse ambiente.

O conceito de metaverso surgiu em 1992, no livro de ficção científica Snow Crash, de Neal Stephenson. Em 1995, a Active Worlds fez a primeira tentativa de criar o metaverso em 3D, um jogo interativo de convívio. Na mesma linha, em 2003 foi lançado o “Second Life”, ambiente virtual e tridimensional que simulava a vida real e social do ser humano através da interação entre avatares.

Embora a ideia central de metaverso não seja novidade, ele está se tornando uma realidade apenas agora em razão da soma dos seguintes fatores: (a) o desenvolvimento tecnológico da capacidade computacional, (b) a velocidade de rede capaz de processar elevada quantidade de informação necessária para essa realidade tridimensional, e (c) a forma de consumir da geração “Z” (pessoas nascidas entre 1998/2010).

A geração Z já nasceu conectada à internet e, por isso, para ela não há uma grande diferença entre o físico e o digital, o real e o virtual. Para essa geração a experiência é fundamental, o que exige o desenvolvimento de processos de venda muito mais imersivos para conquistá-la. Não é à toa que metodologias de customer experience tem ganhado tanto espaço: os novos consumidores exigem isso. Ignorar significa perder mercado.

O metaverso vai amplificar essa experiência e os seus usuários, por meio das diversas interfaces que estão sendo desenvolvidas para acessá-lo. Do mesmo modo que hoje utilizamos nossos computadores, celulares, relógios para acessar a internet, em breve vamos utilizar óculos, máquinas virtualizadas ou outros tantos equipamentos que estão sendo desenvolvidos para acessar o ambiente virtual, com muito mais possibilidades de interação e com realidade aumentada.

E por falar em realidade aumentada, para compreender melhor como o metaverso vai funcionar, é muito importante diferenciar os conceitos de realidade virtual e realidade aumentada: enquanto a realidade virtual faz com que o usuário experimente um ambiente completamente diferente daquele em que está acostumado, a realidade aumentada acrescenta itens virtuais a um ambiente já existente.

Por exemplo, o aplicativo do seu banco é um ambiente de realidade virtual, pois ele substitui por completo a sua ida ao banco por oferecer um ambiente para realizar as transações bancárias. Já um exemplo de realidade aumentada é o game Pokémon Go, que permite ao usuário capturar Pokémons virtuais pela cidade. A integração entre o mundo real (físico) e o mundo virtual é o principal objetivo dessa tecnologia. Os tão utilizados QR Codes são também um tipo de aplicação de realidade aumentada.

O desenvolvimento da web 3.0 está impulsionando o metaverso por ser um ambiente descentralizado com maiores possibilidades de interação de usuários. A web 3.0 não depende de sistemas operacionais complexos ou grandes discos rígidos para armazenar informações. Tudo estará virtualizado em nuvem.

É impossível negar que a nossa economia está cada vez mais digitalizada. As criptomoedas e a tecnologia blockchain permitiram o desenvolvimento de um ecossistema econômico totalmente virtual que em nada depende dos meios convencionais físicos de negociação ou interação.

O metaverso será um ambiente no qual as pessoas vão poder conviver, trabalhar, assumir obrigações e ter direitos. É um próximo passo da interação humana, e achar que você pode ficar fora dele é o mesmo que tentar se comunicar hoje sem e-mail ou WhatsApp. Consegue imaginar? Difícil, não?

Juliana Callado Gonçales é sócia do Silveira Advogados e especialista em Direito Tributário e em Proteção de Dados (www.silveiralaw.com.br).