Discutir gratuidade X privacidade etc. na 'web' requer honestidade intelectual.

Gratuidade, privacidade, monetização, anonimato, influencers, ‘viralização’ e desonestidade intelectual.

É difícil debater hoje, com tantas paixões à flor da pele – mais políticas que econômicas – com quem se convence de que não há lado (só descuido, só desaviso) na exploração errônea, no uso indevido de dados na internet, sobretudo nas redes sociais. Neste 1o. de julho, um avisado boicote teve início. Empresas – cerca de 400 organizações, internacionalmente -, recusando-se a financiar discursos de ódio, retiraram por 30 dias (em alguns casos até o final deste ano) seus anúncios em plataformas da chamada ‘mídia social’.

Nós, do Observatório da Comunicação Institucional, não adotamos tal denominação. Fazemos, propositalmente, uma grande e profunda discriminação entre o que seja a mídia comercial (estabelecida como um negócio já há muito tempo regulamentado), e as redes sociais. O uso do ‘impulsionamento’, um palavrão para nós, trouxe à seara da rede – antes ‘gratuita’… e maravilhosa fonte de informação – o interesse por renda e lucro. Sem discussões, sem formalização, sem lei. Dinheiro circulando de maneira inescrutável. Aí, o sério problema a ser debatido.

Nos Estados Unidos, provocado por censura editorial do Twitter, o presidente Donald Trump alertou que ‘se as plataformas de social media querem comportar-se como editoras de conteúdo, terão que cumprir o mesmo regramento legal a que se obriga a indústria editorial, imprensa incluída’. (Não é dispensável lembrar que Trump é, também, o autor de um dístico que atualizou a antiga ‘imprensa marrom’, os tablóides de fofocas, e as velhas categorias criminais da injúria, da calúnia e da difamação: – You are all fake news! (dirigindo-se a toda a imprensa postada à sua frente numa coletiva de imprensa, na Casa Branca).

Para nós, tal rationale é que constituiria um marco de virada (turning point) – das redes sociais em ‘mídias’ sociais. E isto obrigaria os estados nacionais – por mais que pareça antiquado falar em estado-nação – a estabelecerem regras para o novo jogo comercial. Este é o imbroglio, em nossa visão, ainda não devidamente endereçado.

Cartas para a Redação.

P. S.: A ‘maravilha’ mencionada refere-se ao que podemos chamar de ‘lado bom’ da internet, a ação de generosidade de quem disponibiliza imagens, informação, resultados de pesquisas etc. gratuitamente. Porém, como sabemos, não existe almoço grátis sob o Sol que nos ilumina a todos – e a gratuidade da rede ‘cobra’ seu preço em perda progressiva de privacidade. Quanto mais nos embrenhamos em sistemas, portais, sites, blogs, redes sociais e aplicativos, mais ‘entregamos’ informação sobre nós. Muita coisa vai com o nosso conhecimento e autorização (a LGPD deverá recrudescer tal controle e supervisão externa), mas com as elementares tecnologias de cookies e phishing, muita coisa que não sabemos – e/ou não queremos que saibam – vai junto. E esta é uma das bases do chamado Big Data (sobre nós) – algo com que vimos convivendo e que só fará crescer com os novos marcos-fronteiras; a Inteligência Artificial (A. I.) e a Internet das Coisas (IoT).

Manoel Marcondes M. Neto é cofundador e diretor-presidente do Observatório da Comunicação Institucional.

Sobre Marcondes Neto

Bacharel em Relações Públicas pelo IPCS/UERJ. Doutor em Ciências da Comunicação pela USP, sob a orientação de Margarida Kunsch. Professor e pesquisador da Faculdade de Administração e Finanças da UERJ. Editor do website rrpp.com.br. Secretário-geral do Conrerp / 1a. Região (2010-2012).