Big Brother na sala de aula. Por Luiz André Ferreira.

O mesmo autor da música “Coração de Estudante” diz em um outro clássico da MPB que “o artista tem de ir aonde o povo está”.

Parodiando Milton Nascimento, podemos afirmar que o trecho se aplica aos professores. Se antes o aluno via-se em um emaranhado sistema educacional, com regras, diretrizes, linguagens e comportamentos impostos, agora, o jogo virou. Hoje, o professor é quem se vê como aprendiz em um universo nativo de seus alunos.

No mundo digital, qualquer informação está disponível a todos, de maneira quase democrática, e não mais restrita à lousa do professor. Esse profissional precisa compreender a realidade dos seus alunos para se apropriar de sua linguagem, formato e dinâmica, e aplicá-las em sala de aula.

O panorama já vinha mudando, mas de forma muito lenta e atravancada, em boa parte, pelo conservadorismo da enferrujada engrenagem educacional. No entanto, essa transposição teve de assumir uma velocidade supersônica, por conta do interminável isolamento imposto pela Covid-19. Por ironia, boa parte dos professores que via no celular, no WhatsApp e na internet, ameaças à sua tradicional aula expositiva, passou a depender delas para poder continuar seu ofício.

Essa revolução provocada pela pandemia fez com que tivéssemos que nos reinventar em tempo recorde. O conteúdo-base pode não ter mudado ainda, mas a forma de transmissão precisou usar da tecnologia como canal transmissor tendo que, para isso, assumir formatos totalmente diferentes. Isso obriga o profissional de educação a sair de sua zona de conforto. Como no “Jogo do Milhão”, teve que pedir auxílio aos universitários (no caso, estudantes de todos os níveis). Finalmente isso fez com que os estudantes saíssem da posição de meros espectadores para atuar também como protagonistas da construção de seu próprio conhecimento.

Diante dessa necessidade de adaptação, tive coragem de despir-me de meus preconceitos intelectuais e tecnológicos e ousar trazer o “Big Brother Brasil” para dentro de minha sala de aula. Aquele laboratório em tempo real, ao alcance de todos e a qualquer momento é desafiador. No meu caso, apliquei nas aulas de Gestão e Empreendedorismo dos cursos de graduação da Faculdade Hélio Alonso (FACHA). No entanto, poderia ser perfeitamente aplicado em turmas de ensino médio e em parte do fundamental.

Por meio da análise do comportamento dos personagens do programa de TV, pude trabalhar conceitos como: inovação, comportamento, comunicação, oratória, relacionamento, gestão de crise, ética, geografia, cultura, regionalismo… E nem preciso dizer que o engajamento foi infinitamente maior, assim como foram a assiduidade, a adimplência e a média nas notas das provas e seminários realizados.

Luiz André Ferreira é jornalista e professor universitário. Mestre em Bens Culturais e em Projetos Socioambientais. Pioneiro, em 2002, com o lançamento da coluna “Responsabilidade.com” sobre ética e sustentabilidade no jornal Le Monde. Tem passagens pela Reuters e grupos Folha, Estadão, Globo, Bandeirantes e Jornal do Brasil.