As notícias negativas dos últimos dois anos levaram a sociedade a uma esquizofrenia coletiva. Por Maria Inez Périco.

Os estímulos negativos provenientes da Covid-19, sucedidos pelas guerras atuais, “bombardearam” a população mundial durante os últimos dois anos, deixando o cotidiano das pessoas envolto em tragédias e problemas de toda ordem. Impossível não se dar conta desta arapuca colocada pela imprensa em todas as esferas.

Essa realidade nos trouxe, contudo, grandes aprendizados e, em muitos casos, desnudou a própria imprensa, acostumada a pautar sua audiência em temas mais negativos do que propositivos.

O fato é que a mídia em geral exagerou na dose, “perdeu a mão”. Alguns canais até mesmo ampliaram o clima apocalíptico a fim de mirar na popularidade do atual governo e acabaram dando um tiro no pé. Sejamos realistas, independentemente de ser A ou B, a proposta não emplacou.

Além de perder audiência em alguns horários, o “cancelar” da imprensa funcionou com um simples toque no controle remoto. A sensação de ser “bombardeado” apenas com informações negativas – o tempo todo e todos os dias – fez o espectador dar-se conta da toxicidade da informação, gerando medo e desesperança de forma generalizada, mudando o foco até mesmo do entretenimento.

Sabemos que a tragédia, infelizmente, vende mais do que a ação positiva e que esta realidade vem de longo prazo. Há décadas, jornais, revistas, rádios e televisões pautam sua audiência na cobertura de notícias “bombásticas” e o acesso – que era limitado a esses meios até a chegada da internet – contribuiu para manipular e dificultar compreensões mais reais.

A era digital, contudo, propiciou ao consumidor de informação a liberdade de escolha e, mais que isso, a filtragem da veracidade das informações que recebe. Por sua vez, as chamadas mídias sociais, desde a sua chegada, mesmo com as inúmeras ressalvas que merecem, serviram e servem para desnudar pautas excessivamente negativas ou falsas, tornando-se rapidamente um palco de contradições acaloradas. Aqui, é justo reconhecer que, de certa forma, as redes contribuem como ferramental para maior socialização da comunicação.

O fato é que, desta vez, comprovadamente, o momento vivido na pandemia acendeu o alerta para uma necessidade de reorganização – e empreendedorismo – no jornalismo, em todas as esferas.

A população, em sua grande maioria, após a fase da esquizofrenia da doença e da desgraça, devagar, se recupera. Felizmente, e aos poucos, o mundo caminha para novos valores onde a verdade e a empatia devem prevalecer, afinal, as mudanças geram conflitos, mas, ainda que por uma grande enfermidade, podem nos levar a um lugar melhor.

Maria Inez Gatelli Périco, graduada em Relações Públicas (Universidade de Caxias do Sul – UCS), pós-graduada em Comunicação Organizacional (UCS) e mestre em Letras, Cultura e Regionalidade (UCS).