Vazio existencial VERSUS consumismo. Por Angela Piotto.

No mundo contemporâneo, alimentado pelo consumo, quem tem mais é melhor.

Entretanto, ter mais do que nos torna melhores que nossos irmãos?

A mídia tem fundamental importância neste assunto. Todo marketing empregado em consumir, possuir, adquirir mais, nos coloca numa busca desenfreada e vazia. Quanto mais compras realizadas, mais o vazio aumenta, como se, na mesma proporção, tudo que é adquirido não seja suficiente nunca.

Muitas pessoas destacam-se materialmente e expõem o EU. O “eu tenho o melhor celular”, “eu tenho as melhores marcas de roupas”, ” as melhores marcas de calçados”, “as melhores marcas de perfumes”, “de relógios”, “de bolsas”… Muitos gargalham, reafirmando o prazer em ter tudo… e “importado”.

Contudo, apesar de possuírem “tudo o que traz a felicidade”, sofrem crises depressivas, crises de pânico e têm abalos emocionais agressivos. Se possuem tudo o que há de melhor, oferecido à venda dentro do mundo material, porquê então nunca estão satisfeitas e realmente em paz?

A avareza humana cultua um possuir sem precisar, e causa distúrbios por meio do sentimento de inferioridade alimentado por inveja do outro e ego.

Retomamos, então, o questionamento do início: o que nos torna melhores que nossos irmãos, já que continuamos na busca incansável de ter, sem nunca preencher a lacuna interior.

Observa-se que, quanto mais se adquire, mais se possui, mais pesado fica o mundo interno. Valeria a pena tal sacrifício para ter tanto e ter nada? Pois tudo que é matéria, perde-se – e com uma velocidade absurda, pois a tecnologia se renova assim como o nascer de cada dia.

E, mesmo possuindo tudo o que nos faria “os melhores”, não nos sentimos desse modo. O que fazer? Como aplacar a fúria destrutiva de um buraco interno?

Cada um tem seu tempo de retorno para si, de observar e se questionar o que se está fazendo a si mesmo, se está cooperando para uma melhora ou piora? Até quando e até quanto eu estarei disposto a consumir e alimentar esse vazio.

Há inúmeras maneiras de tratarmos nossas chagas emocionais e preenchermos o vazio interno. Há várias maneiras de darmos amor a nós mesmos. Há várias maneiras de nos tratarmos com respeito e empatia. Há várias maneiras de reencontrar-se, e de SER.

Tudo o que é em excessivo faz mal. Limites e bom senso são necessários para uma vida equilibrada. Adquirir o que nos faz bem, do que são necessidades mesmo, isto não nos fará mal. Pelo contrário, isto complementa o cotidiano e nos mostra que somos capazes de nos mantermos.

Mas quando ultrapassamos o limite do necessário e, mesmo possuindo tudo, ainda queremos mais, e principalmente, doa a quem doer, então já nos vemos doentes emocionalmente. E, se estamos doentes, consumir não seria o remédio, mas tratar-se.

Deixo um questionamento: você já se amou hoje ou já consumiu hoje?

Angela Piotto é graduada em Direito, pós-graduanda em Direito do Trabalho, Direito de Família e Psicologia Jurídica. Atua como Terapeuta Integrativa.