Teoria e prática, um diálogo possível. Por Francys Albrecht.

Durante minha trajetória acadêmica, carreguei com muito orgulho e carinho o título de pesquisadora. Hoje, diante de tantos ataques à ciência, especialmente, as ciências humanas e sociais, pesquisar torna-se um ato de resistência. Sem bolsa, sem recursos, sem perspectiva profissional em uma carreira docente em universidades públicas ou privadas. O que leva então estas pessoas a dedicarem tantos anos de suas vidas a uma profissão que não demonstra tampouco um vislumbre de retorno? Do meu ponto de vista, é a convicção de que seu estudo guiará novas pesquisas, ajudará compreender melhor o nosso mundo e trará novas alternativas e soluções aos problemas atuais. O altruísmo e a ciência caminham juntos.

O campo de pesquisa da comunicação caminha recentemente para uma independência, visto que, por muitos anos, autores de outras áreas como sociologia, direito e filosofia sustentavam boa parte das dissertações e teses. Devido a este fato, acredito que venha o distanciamento da pesquisa em comunicação com o mercado de trabalho. Ainda que fossem investigados objetos empíricos do jornalismo, publicidade, cases de relações públicas, as discussões se mostravam muito analíticas e pouco propositivas, em função da abstração de ciências mais duras como a utilização de autores filósofos, por exemplo.

Pensar a comunicação pela comunicação é um caminho que enriquece a academia e o mercado. Destaco aqui três hipóteses. Primeiramente, os autores de comunicação seriam mais valorizados e ganhariam mais autonomia para discutir questões internas da área (porque sim, ainda há uma resistência em utilizar a pesquisa em comunicação como base teórica, inclusive, dentro do próprio campo). Em segundo lugar, não só os objetos de investigação seriam de natureza prática, como os objetivos da pesquisa poderiam resultar em encaminhamentos para o próprio mercado de trabalho ou que as discussões acadêmicas tivessem reflexos no cotidiano dos comunicadores. E, por fim, o fortalecimento de uma área do conhecimento é o fortalecimento da ciência como um todo, havendo maior adesão aos estudos da área, haverá maior circulação e intercâmbios dos saberes produzidos.

Entretanto, é importante ressaltar que não há a necessidade de exclusão das pesquisas de fora, mas havendo autores da comunicação estudando o tema, porque referenciar os de outra área? Da mesma forma que as pesquisas não devem ser guiadas pelo mercado, mas que tenham um retorno e um diálogo entre estas duas esferas. Quantas pesquisas sobre objetos como telejornais, rotinas em agências de publicidade, desenvolvimento de software e técnicas de pesquisa de opinião pública ficaram restritas apenas aos circuitos de eventos acadêmicos e revistas científicas?

Aqui, também, entra a discussão sobre divulgação e comunicação científica. Havendo estas trocas, quem sabe aqueles profissionais que nunca tiveram interesse em se aproximar da rotina acadêmica se interessem por uma discussão que se acerque do seu dia a dia. Do mesmo modo que um pesquisador tenha em mente o retorno para sociedade como um dos objetivos do estudo, seja em resultado prático ou divulgação dos resultados para a comunidade profissional.

Tendo isto mente, gostaria de ocupar este espaço do Observatório da Comunicação Institucional para, na medida do possível, trazer reflexões sobre o campo, o mercado e o trabalho em comunicação. Deixando de lado a rigidez da linguagem acadêmica, trazendo observações teóricas que contemplem a natureza prática da profissão como, por exemplo, o elo entre comunicação da tecnologia (SEO, dispositivos móveis, programação), a importância da mídia da atualidade (mensagens de WhatsApp servindo como prova em processos jurídicos). Isso, no entanto, é assunto para textos futuros. A questão é que a comunicação teórica e prática tendem a fortalecer a ciência, o mercado e a vida profissional dos comunicadores.

Francys Albrecht é bacharela em Jornalismo e mestra em Mídia e Estratégias Comunicacionais pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Possui experiência em assessoria de comunicação e imprensa e produção de conteúdo. O e-mail disponibilizado para contato é ar.francys@gmail.com.