Ao criarmos um produto, ele pode, enquanto está apenas na nossa imaginação, ter as formas e detalhes que desejamos, sem limites. Depois, quando fazemos os primeiros rabiscos (que são um grande filtro das ideias iniciais), nem tudo o que foi pensado consegue ser materializado, seja no desenho ou em mockups preliminares. Mas, ainda assim, conseguimos fazer reentrâncias, curvas e formas orgânicas.
Daí, na hora em que encaramos os métodos de produção, vemos aumentar a dificuldade de realizar o que imaginamos e acabamos por simplificar cada vez mais. O maior problema é quando o produto idealizado perde a característica inicial desejada. Hoje, graças à impressão 3D, tenho visto, com felicidade, muitas formas interessantes sendo materializadas. Por outro lado, noto a dificuldade que os alunos têm sem este recurso.
Para mim, um designer deve, necessariamente, se envolver com os métodos e processos produtivos, entendendo a sequência de operações da produção. Só assim entrará em contato com as reais limitações e possibilidades das ferramentas, podendo garantir o sucesso do projeto. Sempre que possível, vá aos fornecedores, fábricas e gráficas, converse com quem entende, esteja aberto a aprender. Pergunte. Não tenha vergonha em não saber.
Por fim, deixe tudo anotado em fichas técnicas, porque são muitos detalhes e quase sempre envolvemos vários profissionais no processo. Esta é a hora crucial do seu trabalho, pois a comunicação é tudo. Tente falar a mesma língua do seu fornecedor, usar termos que ele possa entender, deixe tudo anotado de modo que qualquer profissional entenda, não somente aquele com quem você conversou. Faça desenhos (os desenhos técnicos são os mais usados por questões de escala), anote as mudanças que aconteceram no meio do caminho e mantenha os dados atualizados. Tomando estas precauções você minimizará o risco de erros. E, no futuro, se precisar refazer o projeto, conseguirá entender suas anotações.
A ideia do meu projeto de doutorado, aliás, nasceu da reedição de uma bolsa da qual uma empresa não guardou os dados de produção. Mas isso é conversa para um outro texto.
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A designer Gisela Costa Pinheiro Monteiro é professora do Departamento de Design e Tecnologia da Universidade Federal Fluminense, doutora, mestre e graduada pela Escola Superior de Desenho Industrial da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (ESDI/UERJ) e técnica em Design Gráfico pelo Senai Artes Gráficas do Rio de Janeiro.