No início do mês de agosto, Alice Regina Alves Cavalcante, conhecida socialmente por Alicinha Cavalcanti, depois de uma batalha gigantesca contra uma doença ainda muito pouco conhecida pela sociedade, a Afasia Progressiva Primária (APP), faleceu aos 58 anos, deixando o mundo dos eventos muito sensibilizado e nostálgico com sua trajetória.
A APP é uma síndrome neurológica rara, relacionada a um quadro de degeneração do cérebro, e que afeta, progressivamente, a linguagem. Essa condição causa alterações cognitivas e comportamentais, reduzindo a autonomia e independência da pessoa acometida, tanto que quando foi diagnosticada como portadora dessa doença, em 2017, Alicinha se recolheu, não mais sendo vista e deixando até mesmo de alimentar suas redes sociais. Além da APP, Alicinha também desenvolveu a esclerose lateral amiotrófica (ELA) e recebia tratamento domiciliar desde então.
Alicinha Cavalcanti começou a carreira aos 20 anos na casa noturna The Gallery, em São Paulo, palco de grandes fenômenos musicais durante a década de 1980, como Tim Maia e Cazuza, tendo como seu mentor e até padrinho, o empresário do entretenimento José Victor Oliva.
Alicinha foi considerada a maior e mais conhecida promoter do Brasil, com um mailing que continha 17 mil nomes de famosos.
Tive oportunidades de trabalhar ao seu lado e sua energia era realmente algo contagiante, emoldurada por um sorriso sempre presente. Ela fazia questão de dizer que era promoter e não RP, demonstrando sua consciência e respeito pela profissão regulamentada, mas não usava sua titulação, pois sabia que era incorreto, apesar de ter verdadeiros atributos vocacionais para ser a mesma, faltando só a formação específica.
Ter essa conduta já dizia muito de seu grau de profissionalismo, pois vemos com frequência pessoas sem formação – e até mesmo sem talento para as relações públicas – se autopropagarem como tal, sem honestamente ser.
No Brasil, a sociedade e a própria imprensa ainda têm dificuldades de identificar o que é ser promoter e o que é ser relações-públicas
A profissão de RP está focada na construção de relacionamentos com os diversos grupos de interesse que orbitam uma organização, de qualquer setor, e nesse caso também podemos pensar na ótica de eventos.
Lidar com públicos tão distintos como a imprensa, convidados VIPs, influenciadores digitais, autoridades e até mesmo o público-alvo de um evento seria o papel do RP, o que pode acarretar resultados de maior sucesso, já que contaríamos com uma visão plenamente profissional para esse estímulo.
A visão multidisciplinar acompanhada da sensibilidade em não só atender mas, sobretudo, entender de gente, faz com que as relações-públicas tenham um papel vital no contexto contemporâneo, trabalhando com paradigmas científicos e sendo elas propriamente ditas um segmento incitador de novos horizontes e conquistas, entre os quais encontra-se o engajamento.
Esse profissional também poderá ser responsável por aplicações de pesquisa de opinião, além de gerar exposições positivas de um evento em todo o campo midiático, seja por veículos da imprensa propriamente dita ou pelas redes sociais próprias da empresa ou do evento.
Já o que se convenciona chamar de promoter tem a característica de, justamente, atrair participantes ou convidados para um evento, geralmente com um viés social para atiçar interessados na compra de ingressos e tickets, que serão, depois, também materiais de trabalho na repercussão midiática.
A palavra promoter vem do verbo inglês to promote (promover algo) e não pode ser confundida com o termo homônimo a que usualmente nos referimos definir quem investe na realização de um evento, o promotor.
O promoter geralmente tem atuação mais concentrada na promoção de festas em boates, danceterias etc., mas pode também ser integrante de uma comissão organizadora de um evento com o propósito de convidar determinados perfis de pessoas ou até mesmo esse novo público em voga na atualidade, chamado de influenciadores digitais.
Percebe-se, então, que a junção dos expertises de RP com um promoter, sem dúvida alguma, pode intensificar os resultados de sucesso de um evento, local, e/ou imagem de uma pessoa física ou jurídica.
Alicinha Cavalcanti foi uma referência como promoter no Brasil e assinou milhares de festas e projetos com seu nome, uma espécie de griffe, simbolicamente fundindo glamour, alegria e muito networking. Sabia do seu papel, e tinha consciência do quanto tinha ao seu lado pessoas que realmente nutriam bons sentimentos por ela e do outro lado, o quanto tinha de interesseiros e aproveitadores. Nunca perdeu a linha e com uma postura educada buscava conciliar e exaltar o bom da vida, reunindo pessoas para celebrar, se divertir e se emocionar. Afinal, compreendia muito bem que a coleção de momentos assim deixaria a trajetória de todos ainda mais especial e cheia de memórias ternas e felizes. As mesmas que terei dela até o fim… ou melhor, até o momento de um novo encontro em outras dimensões, com direito a uma lista de pessoas realmente do bem e do amor, sem penetras para importunar a paz tão merecida.
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Andrea Nakane é bacharel em Comunicação Social, com habilitação em Relações Públicas. Possui especialização em Marketing (ESPM-Rio), em Educação do Ensino Superior (Universidade Anhembi-Morumbi), em Administração e Organização de Eventos (Senac-SP), e Planejamento, Implementação e Gestão da Educação a Distância (UFF). É mestre Hospitalidade pela Universidade Anhembi-Morumbi e doutora em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo, com tese focada no ambiente dos eventos de entretenimento ao vivo, construção e gestão de marcas. Registro profissional 3260 / Conrerp2 – São Paulo e Paraná.