Qual é o real peso das relações pessoais na sua vida? Por Luciana Goloni.

Nos últimos anos temos visto a sociedade inclinar-se cada vez mais à importância do trabalho e da carreira. É crucial a escolha de um curso de formação, o preparo contínuo para que consigamos atuar dentro da área escolhida.

Todas as nossas ações são voltadas para conseguir espaço no mercado de trabalho, reconhecimento, um bom salário…

Essa busca obstinada reflete-se nas redes sociais que, quando voltadas ao mundo do trabalho como o LinkedIn, apresenta cada movimento friamente calculado para conseguir visibilidade e status nessa área. Quando nas mídias não-específicas do assunto, ainda assim trazemos nossas carreiras e o dito papel na sociedade.

Já parou para pensar que nos qualificamos de acordo com as nossas profissões? Somos engenheiros, fisioterapeutas, esteticistas ou bombeiros…

Não somos nós mesmos. O que fazemos vem sempre antes e nos qualifica como pessoa.

E o que isso significa nas nossas vidas podemos ver quando enfrentamos algum tipo de dificuldade no trabalho, seja desemprego ou uma promoção que não chega ou o salário que não é considerado suficiente… A lista é infinita para razões que justifiquem nossas frustrações. O fato é que, ao nos vermos diante de uma situação que nos traz desconforto na área profissional, reduzimo-nos a nada. Perdemos totalmente o valor em nosso íntimo e, muito provavelmente, para as pessoas mais próximas.

Não conseguimos ter uma visão real de quem realmente somos, afinal, nossa percepção individual está intimamente ligada ao trabalho que exercemos.

Pois bem, o quadro exposto acima não tem contestação. É real.

E, tristemente, mostra que o ser humano está condicionado a se ver limitado ao que conquista em termos materiais ou do que é considerado status em nossa equivocada sociedade.

Apesar de tudo, temos estudos sendo conduzidos de maneira a desvendar onde está a verdadeira felicidade. Como o ser humano, afinal, consegue sentir-se realizado? O que, realmente, é capaz de nos alimentar emocionalmente, já que felicidade é um sentimento?

Por sorte, tivemos o privilégio de ter um estudo que se dedicou a investigar o que realmente motivava a saúde e a felicidade no ser humano.

Você sabia que pesquisadores da Universidade de Harvard conduzem até hoje um estudo de longo prazo sobre felicidade, que começou em 1938 e dura até hoje?

724 homens foram incluídos no estudo em seu início e, até o momento, aproximadamente sessenta ainda estão vivos, com idade por volta de noventa anos.

A amostra foi dividida em dois grupos. O primeiro era privilegiado, composto por rapazes que estavam no 2o. ano da Universidade de Harvard. O segundo era um grupo de rapazes de um bairro pobre de Boston e vinham de famílias problemáticas, motivo pelo qual haviam sido escolhidos para participar.

Logo que entraram no estudo, foi feito um levantamento de sua saúde, seus pais foram entrevistados e eles, obviamente, também. A partir daí, eles tornaram-se adultos e seguiram suas vidas. Tornaram-se desde operários a advogados, pedreiros a médicos e assim por diante. Parte deles desenvolveram alcoolismo, esquizofrenia. Alguns ascenderam da base até o topo da pirâmide social, enquanto outros fizeram o oposto.

O quarto diretor desse estudo, Robert Waldinger, cuja palestra TED inspirou esse texto, diz que a pesquisa segue monitorando os participantes, de dois em dois anos, enviando questionários sobre suas vidas com entrevistas e exames médicos periódicos são submetidos.

E agora a pergunta que não quer calar: o que pudemos aprender com a pesquisa?

A grande lição é simples: não é dinheiro ou o status que faz a diferença. O que nos torna saudáveis e felizes são bons relacionamentos! As pessoas mais conectadas à família, aos amigos e à comunidade são mais felizes, têm mais saúde e vivem mais do que aquelas que não estabelecem fortes conexões.

Os mais solitários consideram-se menos felizes, sua saúde declina durante a meia-idade, sua função cerebral decresce e também vivem menos.

Na verdade, provou-se que a qualidade das relações é o que realmente importa. E, além disso, que viver em meio a conflitos é muito prejudicial à saúde. Casamentos conflituosos causam um mal maior do que o divórcio, em si, pode causar. E, em oposição, viver num ambiente de relações harmoniosas é protetivo.

Analisando os dados do estudo de modo reverso, ou seja, checando os dados dos participantes em seu período de meia-idade, era possível prever como seria seu envelhecimento. E os dados usados não eram pragmáticos como os níveis de colesterol no sangue, por exemplo. Os maiores indicativos eram o quão satisfeitos eles estavam em seus relacionamentos. Eram as respostas a esse tipo de pergunta que podiam dar indícios de como seriam os próximos anos de cada um.

Outra lição do estudo aponta que as boas relações protegem também nossos cérebros. Aqueles que viviam em relações nas quais podiam contar com o outro, tiveram suas memórias preservadas por mais tempo. Enquanto os que viviam em meio a conflitos, tinham suas memórias comprometidas mais cedo.

No fundo, a sabedoria de que relações próximas são boas para saúde e bem-estar é bem antiga. Mas por que não conseguimos mais acessá-la?

Porque construir e manter relações saudáveis requer esforço constante. E também estamos envoltos em um mundo que cultiva artificialismo e imagem, o que nos cria uma enorme ilusão do que nos traz felicidade.

As pessoas mais felizes depois de 75 anos no estudo foram as que se esforçaram para construir amizades no trabalho e relações estáveis e equilibradas com os mais próximos.

A conclusão da investigação científica – a qual ainda está sendo desenvolvida, porém já nos permite trazer um robusto aprendizado – é de que devemos buscar aprofundar nossas conexões. Construir relações amorosas. É isso que realmente nos alimenta e anima.

Em vez de se dedicar desmesuradamente ao trabalho, equilibre tempo de qualidade para estar com os seus, cultive o convívio com as amizades e alimente as afinidades com os que lhe cercam.

Evite conflitos, releve e priorize a relação em detrimento das questões divergentes.

As relações devem sempre ser preservadas. Elas estão acima de tudo. Já está mais do que provado…

E o que fica é a lição, que na verdade, já sabíamos, mas ainda temos dificuldade em cultivar: o que importa é mesmo o amor.

Luciana Goloni é palestrante e consultora em Comunicação Empática. Professora do IDCE Escola de Negócios, é pós-graduada em Negócios Internacionais pela UERJ.