- Profissão? - Professor! Professor, como anda a sua autoestima?

Você já pensou nisso? Ou sequer aventou a hipótese de que autoestima elevada e desempenho profissional têm tudo a ver?

‘As últimas testemunhas – crianças da Segunda Guerra Mundial’ – é o título do livro de Svetlana Aleksiévich, publicado no Brasil em 2018 pela Companhia das Letras.

A autora, jornalista ucraniana, foi Nobel de Literatura em 2015 com o livro ‘Vozes de Tchernóbil’.

Tanto em uma obra como na outra, as narrativas são impressionantes, assustadoras, estarrecedoras. Custa-nos crer que a sanha do ser humano contra seu semelhante possa chegar ao ponto em que chegou naquele momento histórico. Animais irracionais não teriam praticado os atos ali descritos.

Breve relato

Dentre as muitas narrativas apresentadas pela autora, de pessoas que sobreviveram aos revezes da história, crianças durante a Segunda Guerra Mundial, quero trazer uma para provocar a reflexão sobre a autoestima – conta o narrador, filho ou filha de um professor, criança na época – que a mãe, em meio a todas as infinitas dificuldades passadas pela família, encontrava meios de lavar diariamente a única camisa do pai, para que ele se apresentasse sempre à altura da dignidade do cargo exercido, da posição socialmente ocupada enquanto professor.

O que chama a atenção? O que surpreende positivamente nesse relato?

A consciência da mãe – transmitida à família através do exemplo – da dignidade da posição do pai, professor. Essa consciência permaneceu através da vida, gravada na memória do filho ou filha (já não me recordo). A consciência de que a maneira como sou visto tem de dar credibilidade àquilo que faço.

Muitos casos semelhantes nos podem ser revelados hoje, quer pela história – antiga ou recente – como pela nossa própria memória. Memória que nos levará a refletir sobre a dignidade do professor, sobre a importância do desempenho da sua função na sociedade humana.

Nestes nossos dias, os fatos relacionados à educação nos emudecem! Eximimo-nos de citá-los por serem divulgados incansavelmente pela mídia. Deixam-nos estarrecidos. Então, nos questionamos: – O que está acontecendo com a Educação? – O que está acontecendo com o professor? Ou com a sociedade? Não tenho respostas. Cabe-me apenas tentar apontar um caminho, provocar a reflexão, trabalhar algo que esteja ao nosso alcance, vislumbrar alguma saída.

Nosso espaço pessoal e profissional

É de onde temos de partir. Mais do que nunca temos de refletir muito: sobre nós mesmos e sobre a nossa prática educativa. Precisamos mudar e crescer, crescer e mudar: no relacionamento conosco mesmos, com nossos alunos e alunas, com os nossos pares, com a sociedade em geral. E assim, a partir do conhecimento de nós mesmos, trabalhar a nossa autoestima.

Há tempos traduzi do espanhol, de Franco Voli, na época especialista em programas de crescimento pessoal, o livro ‘A autoestima do professor’ (Edições Loyola, 1998, 252 p.).

Nesse livro o autor elenca os cinco componentes básicos da autoestima que poderão ajudar o professor – e todos os demais que se dispuserem a trilhar o caminho do autoconhecimento pessoal e profissional – no processo da autoanálise. São eles: segurança, autoconceito, integração, finalidade e competência. Nos próximos artigos buscaremos refletir sobre esses componentes.

O professor não é um mero transmissor de saberes e conhecimento. Para isto dispomos, hoje, de muitíssimas outras formas e meios.

– E quem é o professor?

Conhecer-nos, ter consciência da nossa competência e clareza do nosso papel não terá o poder de resolver os muitíssimos problemas estruturais da nossa sociedade, mas nos trará a confiança e a coragem necessárias para enfrentá-los.

Profa. Yvone Maria de Campos Teixeira da Silva é mestre em Ciências da Religião pela PUC-SP e pedagoga, tendo atuado do Ensino Básico ao Superior – na direção de instituições, docência e assessoria. Hoje, atua como psicopedagoga clínica, assessora de imagem profissional, tradutora do francês, espanhol e italiano – com mais de cinquenta livros traduzidos.