Problemas de revisão fazem revistas médicas se retratarem sobre duas pesquisas. Por Flávia Ferreira.

Matéria publicada pelo The New York Times (NYT) levantou o debate sobre o processo de peer review (revisão por pares) de duas pesquisas publicadas em famosos periódicos científicos – o New England Journal of Medicine (NEJM) e o The Lancet. Eles foram retirados logo após a publicação por conta de um clamor de pesquisadores que viram nos conteúdos compartilhados. Este fato, segundo cientistas ouvidos pelo NYT pode abrir uma porta para fraudes, ameaçando a credibilidade de revistas médicas respeitadas.

Um dos estudos prometeu que medicamentos populares para pressão arterial eram seguros para pessoas infectadas com o Coronavírus. Já o outro alertou que os medicamentos antimaláricos endossados pelo presidente Trump eram realmente perigosos para esses pacientes.

Mas o que seria o peer review e porque ele é tão importante? Segundo o Dot.lib, entre a etapa de propagação e a publicação de um conteúdo cientifico, ocorre uma análise editorial do manuscrito, esse processo é denominado de revisão por pares (em inglês, peer review), onde o artigo é submetido a um conselho de revisores da área acadêmica e que são especialistas no tema abordado. Eles revisam esse conteúdo de acordo com os padrões definidos pela revista.

A revisão por pares deve garantir a qualidade da pesquisa científica. As avaliações escritas dos revisores podem forçar revisões em um artigo ou levar a revista a rejeitar completamente o trabalho. O sistema, amplamente adotado pelas revistas médicas em meados do século XX, sustenta o discurso científico em todo o mundo. No caso destas duas pesquisas, foram os cientistas externos que detectaram os problemas que não foram identificados pelos revisores.

Em entrevistas ao The New York Times, o Dr. Richard Horton, editor-chefe do The Lancet, e o Dr. Eric Rubin, editor-chefe do NEJM, disseram que os estudos nunca deveriam aparecer em seus periódicos, mas insistiram que a revisão do processo ainda estava funcionando. ‘Não deveríamos ter publicado isso’, disse Rubin, sobre o estudo publicado no NEJM. ‘Deveríamos ter revisores que reconheceriam o problema.’

Dr. Horton chamou o artigo retratado por seu diário de ‘fabricação’ e ‘uma fraude monumental’. Mas a revisão por pares nunca teve a intenção de detectar engano total, disse ele, e quem pensa de outra forma tem ‘um mal-entendido fundamental sobre o que é a revisão por pares’.

Além disso, disseram os editores, há uma necessidade urgente de publicar rapidamente novas descobertas para melhorar os tratamentos para pacientes com Coronavírus desesperadamente doentes. Desde o início da pandemia, o The Lancet recebe três vezes o número habitual de documentos a serem considerados, disse Horton. E o NEJM. recebeu até duzentos envios por dia, incluindo ensaios, de acordo com o Dr. Rubin.

O NYT destaca que o NEJM. e o The Lancet estão entre as revistas médicas mais antigas, mais respeitadas e mais lidas do mundo. Eles foram estabelecidos em 1821 e 1823 e são classificadas em primeiro e segundo lugar entre as revistas médicas de interesse geral por seu ‘fator de impacto’ e a frequência com que seus estudos são citados em outras pesquisas.

Um relatório em uma dessas revistas pode ter repercussões imediatas para os pacientes e para a pesquisa, como ocorreu após a publicação inicial do estudo pelo The Lancet, concluindo que os medicamentos antimaláricos cloroquina e hidroxicloroquina colocavam em risco a vida dos pacientes com Coronavírus. Isso fez com que a Organização Mundial da Saúde e outros grupos interrompessem os ensaios clínicos dos medicamentos enquanto eram realizadas análises de segurança.

*Conteúdo com informações e tradução do New York Times e Dot.lib.

Flávia Ferreira é jornalista pós-graduada em Gestão Estratégica da Comunicação. Com mais de 10 anos de atuação profissional, já navegou pelo terceiro setor, o setor público e o privado, sempre trazendo o viés social para o trabalho cotidiano, seja com comunicação corporativa, gestão de marcas ou reportagens de campo.