Por que o jornalismo sempre foi sobre empatia. Por Poliane Brito. 

Eu me lembro de, na universidade, discutirmos, nas aulas de teoria da comunicação e do jornalismo, a importância da comunicação nas sociedades democráticas. Li muitos livros sobre teorias diversas, a contragosto, e achando que aquilo não me serviria de nada.  Eu só queria sair entrevistando gente, conhecendo pessoas, lugares e realidades diferentes da minha.

Dez anos depois, eu agradeço aos meus professores por insistirem tanto para que eu aprendesse sobre tudo isso. Hoje, as coisas fazem sentido e me dão clareza sobre o papel da minha profissão.

Vivemos em um momento de muitas fake news. Os tempos são ainda mais difíceis – estamos passando por uma pandemia –, há muita desinformação, e os números se atualizam a cada dia. Provavelmente, a tendência é que a gente não consiga acompanhar as fatalidades que essa pandemia trará.

Tanta desinformação é algo natural quando vivemos em ‘uma sociedade em rede’ – se tiver interesse leia Manuel Castells para entender mais. Diferente de outros tempos, hoje todos nós temos uma opinião para dar em nossas redes sociais. Há quem crie propositalmente sites fake.

Com muitos emissores de informações, nunca foi tão necessário discernir o que é notícia. E notícia, ao contrário do que a gente lê por aí, não é qualquer coisa: precisa ser de interesse público, fugir ao cotidiano – sim, não é notícia se acontece todos os dias –, apresentar diferentes versões de uma mesma história. (Se quiser saber mais, leia ‘Teorias da Comunicação’, do Mauro Wolf). É aí que entra o jornalismo, que, por definição, deve mediar o que acontece no espaço público (nas instituições, nas ruas, na sociedade) e na vida privada. Ser jornalista, para mim, é um exercício de empatia. Esteja você em uma redação, escrevendo para um blog ou no mundo corporativo. Todos os dias, você olha para o que acontece à sua volta, avalia se aquilo é notícia para os seus ‘leitores’. Isso tudo só é possível por meio de um exercício de empatia. Isso mesmo, se colocar no lugar do outro e entender: o que faz sentido, como dar sentido e contexto a algo? Ouvir todas as versões da história e fazer todas as perguntas difíceis. Ser jornalista é fazer também gerar a reflexão.

Em tempos difíceis como os de agora, nunca foi tão importante termos os dados e os fatos, ouvir diferentes perspectivas e seguir com as informações corretas. Por isso, em tempos de quarentena, quando ir até o que acontece é algo delicado, eu sinto orgulho da profissão que escolhi. Por que jornalismo sempre foi empatia.

Poliane Brito é jornalista, pós-graduada em Marketing Empresarial e mestre em Ciência Política / Comunicação Política pela UFPR. Escreve sobre fatos cotidianos e reflexões sobre o papel da comunicação em nossas vidas.