Este mundo que me traga pelas beiras,
que consome as fronteiras dos meus acasos,
é o mesmo que me desafia em ressurreições
por onde passo.
E por estar nele, prenhe do seu asco,
é que ainda aguardo as suas Luas
para parir novidades cruas
na gênese do meu cansaço.
E se ainda não durmo para sempre,
é porque ainda aguardo a tocaia dos seus açoites,
é porque os meus olhos não se pregam
a esperar pelas suas noites,
cada vez que o desobedeço
e me regenero.
Cada vez que a morte sonego,
para honrar a vida que me conclama
no brilho, incontido, da íris de cada aço.
E se assim me imagino, pó,
ou mesmo a nuvem mais breve de algum céu de estio,
é porque ainda estou aqui, ressurgindo,
para dizer que não sou parte dos seus números,
que não faço coro ao seu grito,
e que meus pelos não se movem
pelo sopro dos teus desejos fugidios.
Para dizer que o meu corpo não se molha
na saliva dos teus rios,
porque sou eu mesma
a sentinela dos meus precipícios.
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Mariana Vieira é escritora, poeta, artista plástica e advogada. Formou-se em Direito pela Universidade Federal Fluminense (UFF), atuando notadamente na defesa dos Direitos da Mulher. É autora dos livros “Sinto muito, eu te amo – a poética dos afetos” e “Poética dos absurdos”.
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Imagem de chamada: Mariana Vieira.