O OUTRO LADO DAS MARCAS - Gerenciamento de coleções e o fluxo das informações.

Nesta coluna a ênfase é dada no trabalho desempenhado pelo designer, profissional responsável por transformar ideias em soluções, sejam elas de produto ou serviço. O nome da coluna ‘O outro lado das marcas’ foi dado justamente aos bastidores ‘do que’ é criado, ‘porque’ e, principalmente ‘como’. Sobre o último, aqui são tratados diversos aspectos com relação à clareza na comunicação ao longo do processo de design (design process). Tenho um interesse particular no Design de Moda, assunto que tratei em minha tese de doutorado, por achar que a Moda é um campo bastante complexo que precisa de muitos profissionais com expertises diferentes. E tudo precisa funcionar muito bem, como em uma orquestra. Para ilustrar o que digo, neste mês irei tratar sobre o gerenciamento de coleções de moda sob a perspectiva do design.

Independentemente do porte da empresa e da quantidade de profissionais envolvidos, pode-se dizer que gerenciar uma coleção é planejar e controlar todo o processo produtivo – elaboração, desenvolvimento, produção, distribuição e até comercialização –, controlando as fases do ciclo de vida do produto (Product Lifecycle Management – PLM).

Para criar uma coleção, o designer precisa de muitas informações, dentre elas, reunir dados ou recebê-los reunidos por algum setor. Isto significa que antes de começar a projetar algo específico, como uma camiseta, precisará saber quantos modelos terá que criar. Além desta informação, terá que decidir outras questões, tais como cores, tecidos, entre outras.

As quantidades de modelos são dispostas em planilhas, pois elas facilitam a contagem total das peças a serem produzidas. As empresas pequenas de criação de moda usam como software o Excel (um software do pacote da Microsoft) por sua popularidade e acessibilidade em termos de custo – R$ 24,00/mês – que é baixo. Isso acontece porque quanto menor a empresa, menos funcionários, menor produção e menos verba. Enfim, menos necessidade de investimento especializado.

Na prática, as informações das planilhas são cruzadas com as contidas nas fichas técnicas de cada produto criado. Pode-se dizer que é um trabalho iterativo, com muitas idas e vindas até que tudo se ajuste e a produção possa fluir bem até a comercialização.

Em empresas pequenas o próprio dono pode gerenciar sua coleção. Designers sofrem quando se tornam empresários. Você já deve ter escutado falar que quanto mais ‘empresários’ ficamos, mais distante da criação estamos…

De modo geral, quem decide abrir uma empresa de moda precisa se preocupar não somente em criar, mas também em escoar a produção. Por isso surge a figura do gerente de produto, um profissional que lida com este aspecto total.

A função do gerente de produto é, a priori, garantir que os produtos estejam prontos e entregues nos prazos definidos e é comum encontrar profissionais de diversas formações, como das áreas de design, economia, engenharia e marketing.

Para cuidar somente do que tange à criação existe o coordenador de estilo, um designer experiente que pensa na concretização das ideias em produtos e que conduz uma equipe de profissionais. Seu trabalho não deve atrasar, pois há todo um cronograma intenso de produção, distribuição e comercialização que poderá ser prejudicado.

Foi pensando em atender a este complexo calendário que empresas ligadas à tecnologia – como Audaces, CGS, Gerber, Lectra, Linxs, Optitex, e Visual Retailing – se especializaram em oferecer recursos para gerenciamento de coleções de moda. Elas perceberam na Moda uma oportunidade e investiram em sistemas específicos de banco de dados colaborativo (na nuvem), e oferecem recursos para que as empresas de moda possam registrar dados desde a criação até o gerenciamento de estoque. Dessa forma, vários setores podem acessar o sistema e alimentá-lo com as informações do seu setor. Assim, todos têm acesso à informação, evitando ruídos de comunicação e colaborando para que o fluxo das informações aconteça de forma eficiente.

Referência

MONTEIRO, Gisela Costa Pinheiro. O designer como o responsável por preservar a identidade da marca ao longo da produção das coleções de moda. 2018. 445 p. Tese (Doutorado em Design) – Escola Superior de Desenho Industrial, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2018.

Gisela Pinheiro Monteiro é mestre e doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Design da ESDI/UERJ, na linha de pesquisa ‘História do Design Brasileiro’. É também graduada pela mesma instituição com habilitação em ‘Projeto de Produto e Programação Visual’. Possui formação técnica em Design Gráfico pelo Senai Artes Gráficas do Rio de Janeiro e experiência na prática do Design, tendo sido responsável por diversos projetos para empresas. Atua como docente em diversas instituições do Rio de Janeiro.