NOVA COLUNISTA: Mariah Eduarda Colombo - Jornalismo e a identidade das estatísticas.

Há alguns meses recebi o convite para uma colaboração junto ao Observatório da Comunicação Institucional. Agora finalmente estreio a minha contribuição ao portal, que contará com meus textos na primeira terça-feira de cada mês.

Aqui tratarei sobre comunicação popular, educomunicação, responsabilidade de imprensa, artes, e outros assuntos os quais me interessam e tangem o jornalismo.

Se você deseja receber um aviso sempre que eu publicar aqui, pode me contatar no e-mail mariahcolombo@hotmail.com. Sugestões de temas também são bem-vindas.

Estreio essa coluna em meio a uma pandemia. Há meses que os noticiários foram invadidos pelo tema e existe a sensação de que, com razão, só se fala disso. Por esse motivo seria até ilógico não tratar do assunto aqui.

Em meio ao aumento diário do número de casos de coronavírus no Brasil, um levantamento publicado pela empresa ‘In Loco‘ mostrou que a quantidade de pessoas que está respeitando o isolamento social caiu pela quinta semana consecutiva.

Mesmo com o tema sendo discutindo incansavelmente em veículos de comunicação, redes sociais e conversas de portão, existe a sensação – confirmada pelos dados das pesquisas – que uma grande parcela da população ainda não entendeu a seriedade do que se passa.

O último boletim divulgado pelo Ministério da Saúde aponta 101.147 casos confirmados da doença no país e 7.025 mortes, isso em uma situação de subnotificação. Esse grupo de pessoas que ignora a grave crise sanitária que o país enfrenta conhece os dados, sabe que são altos, mas – para elas – se limitam apenas a números.

Este é um dos principais desafios para todos nós. Somos bombardeados por algarismos o tempo inteiro, o que nos leva a despersonalizá-los. É preciso um esforço diário para lembrar que, além de uma estatística, esses números representam pessoas – e o jornalismo pode utilizar ferramentas para nos recordar disso.

Recentemente o Estadão utilizou brilhantemente o obituário como recurso para nos lembrar que os números de vítimas fatais do Covid-19 representam algo além de números. São pessoas que eram queridas por alguém, tinham ambições, uma música preferida, um passatempo, e seja lá tudo mais que nos preenche e define enquanto humanos.

Saber disso aproxima o leitor e humaniza a estatística.

O obituário não é figurinha recente nas páginas de jornais. Segundo José Carlos Fernandes, jornalista e professor do Departamento de Comunicação na Universidade Federal do Paraná, esse gênero jornalístico começa a se desenhar nos anos 1940 e se consolida nas décadas de 1950 e 1960: ‘O obituário é anterior até a própria ideia de jornalismo moderno’.

Tendo sobrevivido às mudanças, o gênero desempenha um papel importante dentro do jornalismo atual. ”A vida nas grandes cidades e o culto à personalidade criou uma guinada subjetiva, que é a ideia de que pessoas comuns não vão existir porque elas não tiveram uma ‘grande vida’. E o obituário ganha um novo sentido: mostrar a ‘pequena vida’ – explica Fernandes – ali é uma forma do exercício da verossimilhança. Você lembra que você vai embora também. É não deixar esquecer”, completa.

Memento mori. 

Mariah Eduarda Colombo é curitibana e jornalista em formação pela Universidade Federal do Paraná. Entusiasta de fotografia, artes e comunicação popular. Já passou pelo Núcleo de Comunicação e Educação Popular, Museu Oscar Niemeyer e atualmente é colaboradora do G1 Paraná.