Não existe sucesso sem medo. Ter clareza de que todos temos medo é o primeiro passo para usá-lo a seu favor. Por Izabel Barbosa.

De grandes executivos a celebridades, de empreendedores a estudantes: ter medo não é uma exclusividade sua.

Na última semana, comecei a ler o livro de Barack Obama, “Uma terra prometida”. É comum olharmos para grandes expoentes da sociedade e do universo dos negócios e os colocarmos em uma espécie de Olimpo, um lugar especial onde apenas os superdotados, com superpoderes, podem alcançar.

Tendemos a endeusar personalidades e grandes profissionais. Olhamos para eles de baixo para cima, como se os seus feitos fossem inalcançáveis e conquistados por meio da força do divino.

Ao longo das encantadoras páginas do livro do Obama, fica claro que a sua habilidade de comunicação vai além da oratória. Obama consegue criar uma conexão conosco por meio de um recurso que muitos poderosos desconhecem e até mesmo têm ojeriza: a sua capacidade de ser vulnerável.

Por anos, o senso comum nos levou a acreditar que a nossa autoridade devia ser construída pelos nossos feitos, pelo nosso sucesso, pelas nossas conquistas. Mas o que muitos desconhecem é que este é apenas um dos pilares que compõem o poder pessoal. O Prof. Peter Hawkings, nos anos 1990, traduziu o poder em uma tríade composta, sim, pela autoridade, mas com a clareza de que esta só tem valor se aliada à presença, isto é, à habilidade de nos conectarmos com os outros, e à nossa capacidade de impacto, ou seja, de gerar transformação em agendas e mindsets.

Obama conseguiu a atenção e admiração de milhões de pessoas ao redor do globo não em função de sua agenda política ou por sua capacidade de gestão. Ele entendeu que a sua força estaria na capacidade de se conectar com as pessoas; que a verdadeira força se origina quando nos despimos da nossa costumeira armadura e admitimos as nossas falhas, as nossas derrotas e o medo do novo.

O desconhecido nos assombra. O medo do fracasso une todos nós. Ainda mais quando nos damos conta de que podemos colocar em prática grandes projetos e atingir feitos que antes eram inimagináveis. Quando os desafios são mantidos no plano das ideias, viram verdadeiros bichos-papões, drenando a nossa energia para realizações e trazendo a reboque aquele diabinho que nos diz que não somos suficientes.

Segundo o Monitor Global do Empreendedorismo, o Global Entrepreneurship, 35% dos empreendedores brasileiros dizem que, mesmo enxergando oportunidades, por medo, não investem na ampliação dos seus ou de novos negócios. Trazendo esta reflexão para o âmbito da sociedade de forma mais genérica, o Los Angeles Times desenvolveu um levantamento que indicou que o medo é o motivo número 1 para que os norte-americanos não façam planos para o futuro.

Quando deixamos o medo nos paralisar, nos tornamos menos criativos e passamos a gastar um tempo enorme conjecturando tudo aquilo que poderia dar errado se nos aventurarmos rumo ao desconhecido.

Já quando mudamos a perspectiva e aceitamos que o medo será nosso constante companheiro de jornada, passamos a usá-lo como combustível, apontando a direção de onde deixamos a zona de conforto rumo à nossa realização.

O medo da vitória 

Um trecho que me marcou de forma especial nestas primeiras páginas do livro de Barack Obama foi justamente o momento em que ele percebeu que o seu medo não estava mais na possível derrota da eleição presidencial, mas na chance real do triunfo. Em suas palavras, “o medo veio ao me dar conta de que podia vencer”.

E aqui trago a primeira das reflexões deste artigo: de qual vitória você está se esquivando? Ao invés de justificar a paralisia pelas mil possibilidades de fracasso, não estaria você com medo da conquista?

A verdade é que é preciso coragem para nos desprendermos das correntes psicológicas que nos impedem de ir além. É preciso coragem para nos comprometermos com os nossos sonhos. É preciso coragem para enfrentar o “e se”. É preciso coragem para darmos o primeiro passo rumo ao que queremos de verdade.

Nas minhas mentorias com profissionais e executivos bem-sucedidos, eu testemunho constantemente o medo do desconhecido. Para quem já se tornou referência em sua área de atuação, aceitar colocar em prática o novo é algo que requer se expor à possibilidade de voltar a ser iniciante, e até mesmo ruim em alguma coisa. Mas a verdade é que, para se tornar bom, é preciso dar o primeiro passo, testar, errar e aprender com o processo, até que, com a prática, você consiga um bom desempenho naquela nova área ou habilidade.

O sucesso só acontece quando colocamos o medo debaixo do braço e assumimos o caminho do meio como o único a ser percorrido, sem atalhos. Em seu livro “I am enough”, a renomada terapeuta Marisa Peer propõe um exercício simples, mas com um poder transformador: repetir, diariamente, no espelho a simples frase: “eu sou o suficiente”.

Quando você acredita que pode, todos ao seu redor passam sentir a segurança que você emana. E se empoderar da sua própria potência, como trago no meu mantra “vá na direção em que o seu medo cresce”, trará a coragem de que você precisa para buscar os seus objetivos a cada dia, e com permanência. Vale lembrar também que, antes dos resultados surgirem, sempre precisamos percorrer uma jornada de renúncia, e ainda sem benefícios concretos: você começará com esforços, e só com o passar do tempo os resultados substanciais virão.

E quer saber? Tal como quando acendemos a luz e vemos que o bicho-papão não está debaixo da nossa cama, a realidade tende a ser bem menos complexa do que projetamos na nossa cabeça. Ainda que você fracasse nos seus planos e projetos, uma coisa é certa: o fracasso não te mata. Ele te trará sabedoria e te preparará para qualquer desafio que você assumir na sequência.

Lembre-se: você é o suficiente.

Com 27 prêmios em sua carreira, Izabel Barbosa é especialista em branding. É designer pela PUC-Rio/ENSAD Paris, com MBA em Marketing pela FGV e especialização em Seguros e Resseguros pela ESNS. A partir de metodologias proprietárias, desenvolve consultoria para executivos e empresas que precisam desenvolver estratégias para catalisar a construção de valor para suas marcas. Já foi eleita a melhor profissional de Atendimento Sul-Sudeste no AMPRO Globes Awards. Hoje é a liderança estadual da Associação de Marketing Promocional (Ampro) no Rio de Janeiro.