Escreva melhor: como se expor no texto pode ajudar. Por Poliane Brito.

Ojeriza lembra a minha avó Elvira; em sua fala mineira, a vó falava muito esse substantivo feminino. E com ‘ojeriza’ vem à minha mente um bocado de coisas boas: cheiros, lembranças, saudades, e eu até sinto uma espécie de aquecimento na alma, pois eu vejo o seu olhar e sinto o abraço dela, mesmo 15 anos após o seu falecimento.

E aí eu fico pensando em como as palavras têm o poder de trazer sensações e comunicar estados de espírito e quão importante é a gente se colocar no texto por meio das palavras. Macarrão me lembra a minha outra avó, que nas férias fazia de tudo e mais um pouco para me agradar.

Milho verde lembra infância e a família toda reunida para fazer e comer pamonha. Bacon, então, eu digo que é vida, pois tem de sobra no feijão da minha mãe.

Coragem me lembra o encontro que tive com um senhor muito culto, mas desconhecido, em uma biblioteca, e que me perguntou se eu sabia o significado da palavra. Aí, eu disse que não. Então, ele desejou que a coragem – segundo ele ‘cor’ era coração e ‘agem’ era ação – fosse um guia na minha vida.

Eu não tenho um Diário – nunca tive na verdade –, não tenho blog e passo despercebida em muitas redes sociais. Sempre resisti em escrever abertamente por receio, ou melhor, medo mesmo.

Quando a gente escreve, se sente ali no texto, está vulnerável, quase que ‘nu’, sem as proteções.

Mas quando a gente se expõe, isso não precisa ser algo negativo; a gente ganha em estilo e cresce. As palavras que têm significado afetivo para a gente ajudam nisso.

O nosso texto começa a ter a cara da gente e a comunicar além de um amontoado de palavras. Por isso, ‘tá tudo bem’ eu gostar de ditados populares, de recontar e contar coisas da minha vida no texto.

Você aí que me lê pode ter um encontro comigo ainda que não me conheça. Podemos nos conectar pelas palavras, algo em mim pode dialogar com você. E, de repente, a gente partilhe algo. Eu espero que o que eu escrevo contribua com algo.

Se eu pudesse dar uma dica de como melhorar a escrita, eu diria:

Exponha-se no texto.

Poliane Brito é jornalista, pós-graduada em Marketing Empresarial e mestre em Ciência Política / Comunicação Política pela UFPR. Escreve sobre fatos cotidianos e reflexões sobre o papel da comunicação em nossas vidas.