Escondido no canto ninguém chega ao topo. Por Izabel Barbosa.

Luisa é gerente de uma multinacional. Workaholic assumida, ela trabalha 12 horas por dia e preza por entregar tudo o que lhe cabe com excelência, fruto da exigência que impõe a si mesma para ser exemplar.

Luisa é incansável quanto à busca pelo aprimoramento do seu currículo e sempre está atrás de novos cursos de especialização. Mas ela sente que todo o seu esforço é vão. Reclama constantemente que não se sente valorizada pela sua empresa e assiste a seus pares sendo promovidos, enquanto aguarda sentada no seu canto pela promoção que nunca chega.

Enquanto isso, Luiza admira Camila, a diretora da sua área, que é reconhecida não só internamente na empresa, mas por todo o mercado. Por saber se colocar muito bem, ela é frequentemente convidada para representar a companhia em fóruns de debate. Luisa acompanha as notícias diárias do mercado e sempre vê as opiniões de Camila ganhando espaço e notoriedade.

Luisa não consegue traduzir o que Camila tem de especial – ela parece ter superpoderes; uma verdadeira marca que o seu nome carrega, que abre portas e mais portas, como um círculo virtuoso ao redor de sua carreira. Rezam as lendas na rádio corredor que Camila está sendo cotada para ser a próxima CEO da companhia.

Luisa acha que Camila nasceu predestinada a estar onde está e que ela mesma nada pode fazer para seguir os mesmos passos. Luisa queria ser como Camila.

Estudos apontam que a comunicação não é mais uma escolha para líderes corporativos

Todos nós temos um colega que trabalha em grandes empresas e que se vê no mesmo cenário que Luisa. Mas o que ele não enxerga é a crescente onda de influência que as Camilas e tantos outros líderes do mercado surfam para impulsionar ainda mais as suas carreiras. Estes, em paralelo às cadeiras que ocupam, constroem marcas ao redor dos seus nomes, o que lhes abre possibilidades exponenciais para o futuro.

Percebemos claramente como, há alguns anos, as grandes marcas pessoais do corporativo estavam centralizadas nos fundadores e CEOs de empresas. E, de repente, nós nos vimos cada vez mais influenciados por executivos que passaram a estar mais presentes no nosso cotidiano por meio das redes sociais, na mesma dinâmica que vivemos hoje com os influenciadores no entretenimento e nos grandes veículos da mídia. São o que eu chamo de “executivos popstars”.

Dentre os nomes brasileiros – para citar alguns exemplos de estratégias bem-sucedidas de construção de marca pessoal – temos Rachel Maia, Daniela Cachich, Gustavo Caetano e Paula Bellizia, que construíram suas carreiras e, em paralelo, os seus nomes como verdadeiras marcas de valor, ativos que abriram grandes portas ao longo de suas trajetórias.

Esse movimento de criação de marcas pessoais no corporativo está alinhado à tendência que cito cotidianamente sobre a humanização das marcas. Vemos a crescente demanda pelo posicionamento de executivos perante questões que estão impactando a sociedade, em um mundo onde produtos e serviços com foco exclusivo no lucro e nos acionistas ficou para trás.

Em pesquisa de 2021 da Porter Novelli, consultoria de comunicação que ouviu 150 executivos norte-americanos em empresas com receita superior a US$ 250 milhões, observamos alguns dados que apoiam essa tendência:

  • 93% dos executivos dizem que têm o dever de usar as suas plataformas e a sua autoridade para influenciar questões sociais;
  • 95% acreditam que líderes mais empáticos terão melhor desempenho no clima empresarial e na sociedade, e que é necessário para o perfil da nova liderança ter a capacidade de dialogar com o mundo ao redor;
  • 95% dos executivos dizem que os desafios sociais, culturais e econômicos dos últimos anos trouxeram mais consciência sobre o protagonismo que podem exercer na sociedade, o quanto a pandemia despertou uma clareza sobre os seus papéis. Quando enfrentamos situações extremas, a sociedade vira o olhar para as lideranças da iniciativa privada na busca por respostas.

Saber dialogar e se posicionar são ações importantes não só na relação com o consumidor final, mas para ter uma percepção positiva da sua imagem perante todos os stakeholders.

Segundo um levantamento de 2019 da Brunswick, consultoria internacional de comunicação corporativa, um em cada dois colaboradores prefere trabalhar com CEOs que se comunicam cotidianamente por redes sociais, enquanto três em cada quatro pessoas confiam em um CEO que é ativo on-line. O estudo aponta ainda que o melhor caminho é ter uma presença omnichannel: 62% dos líderes mais conectados estão em mais de uma plataforma, isto é, eles vão além do perfil no LinkedIn.

Existe um caminho que a Luisa pode percorrer para seguir os passos da Camila

Voltando à história que puxou este artigo, fica claro que Camila teve, há alguns anos, a sabedoria de desenvolver uma estratégia de fortalecimento da sua marca pessoal. Ela pulou a “corrida dos ratos” do corporativo – ou seja, de entregar 110% da sua energia para as suas entregas – e passou a destinar parte do seu tempo ao desenvolvimento do que mais importa no final das contas: a construção de uma marca ao redor do seu nome que crie um legado maior e mais forte do que o cargo que ela ocupa hoje.

Para Luisa, o quão antes ela despertar e tiver clareza de que branding pessoal não é “coisa de diretoria”, mais cedo colocará em prática a sua estratégia de construção de autoridade no mercado. Ao invés de aguardar a cadeira no board chegar para começar a construir a sua marca pessoal, é ela, na verdade, que fará a diferença para a chegada do tão sonhado convite para o topo.

Sem sombra de dúvidas, a construção de marca pessoal é a próxima fronteira corporativa.

Com 27 prêmios em sua carreira, Izabel Barbosa é especialista em branding. É designer pela PUC-Rio/ENSAD Paris, com MBA em Marketing pela FGV e especialização em Seguros e Resseguros pela ESNS. A partir de metodologias proprietárias, desenvolve consultoria para executivos e empresas que precisam desenvolver estratégias para catalisar a construção de valor para suas marcas. Já foi eleita a melhor profissional de Atendimento Sul-Sudeste no AMPRO Globes Awards. Hoje é a liderança estadual da Associação de Marketing Promocional (Ampro) no Rio de Janeiro.