Empilha, embala, encaixota, empilha, embala, encaixota… Por Vitoria Alvim.

Assim era a vida na Pereira Papéis… Aos muitos me cansava daquilo, queria novos ares, queria ser escrito desde que fui “empapelado”. Via os caminhões saírem com grandes pacotes, e eu nunca estava em algum deles.

Mas, um dia, chegou minha vez. Eu ouvi os motores funcionando e as portas se abrindo… o que, para mim, não eram as portas de um caminhão, mas sim os portões para um mundo novo.

Saímos e fomos levados a uma papelaria local, onde havia milhares de nós. Amarelos, azuis, brilhantes, transparentes… Nunca tinha visto tanto papel diferente! Eu estava espantado. Era melhor do que eu havia imaginado.

De repente, uma mão se esticou e pegou meu pacote, e, com isso, eu pensava: “Será que em mim serão escritas belas poesias de amor? Tristes histórias de decepção? Um tosco desenho de criança?”.

E assim seguia. Enquanto me levavam, eu pensava, duvidava, imaginava… “O que seria? Como seria?”. As perguntas rodavam em minha cabeça de papel como cavalinhos em um carrossel.

Fui desembalado e colocado em uma impressora. O papel era puxado, impresso e cuspido. Na minha vez, senti a tinta sendo absorvida na minha superfície, e fui lentamente empurrado para fora do aparato. Sentia-me incrível enquanto em mim eram impressas as palavras IPTU 2024 – COTA ÚNICA COM DESCONTO. Não eram lá as palavras mais poéticas, mas, mesmo frias, me traziam alegria.

Depois disso tudo, fui lido e carimbado e, depois, quando eu não tinha mais uso, fui jogado em uma espécie de caixa na qual as pessoas colocam o que elas não querem mais.

É isso? Acabou? Eu tinha certeza nenhuma senão a de que tinha sido tudo rápido demais. Todo o meu sonho não podia acabar hoje, assim, desse jeito.

Passei alguns dias no escuro. Fui levado embora. Estava amassado e perdido no meio de milhares de outros papéis, e em certos momentos eu não sabia se eu era eu ou o outro papel era eu e eu era ele.

Como tudo tem fim, assim aconteceu. Fui embolado, misturado, diluído, recriado. Quando vi, já era um novíssimo papel em branco de novo, cheio de possibilidades, cheio de nada. Pronto para novas histórias, escritas, impressas, desenhadas

Vitoria Alvim é carioca, gosta de artes, de desenhar, escrever e ler livros e mangás. Participa de competições e concursos de diversas matérias. Cursa o nono ano do Ensino Fundamental II no Instituto Gay Lussac.