Em tempos de pandemia - profissão professor. Por Juliana Merij.

Em tempos de crise como a instaurada pelo coronavírus, se há uma profissão que tem sido alvo de uma controvérsia gigantesca, é a do professor.

Amados ou odiados, em tempos de educação online, professores ganhram um destaque excepcional.

De repente, na verdade de uma sexta-feira para a segunda, esses profissionais mudaram tudo em suas vidas: horários, acessos, tecnologia, novos celulares, internet mais forte. Rolou empréstimo para possibilitar tudo isso e mudança no layout da casa.

E tudo bem se isso é em nome de boas aulas, de melhor qualidade para essa nova possibilidade de aprendizagem que – de uma hora para outra – abriu-se à sua frente.

As demandas foram inúmeras, as exigências e cobranças ainda mais e, acreditem, a maior cobrança vem deles mesmos – os professores.

Programando aulas usando a tecnologia, a boa vontade e a persistência, o ensino híbrido se tornou o normal neste momento e o professor teve um fim de semana para elaborar tudo de um jeito diferente, se reinventar, se redescobrir, se abrir para um novo formato de ensino e aprendizagem. Celulares amarrados em fitas, suportes improvisados em pilhas de livros, silenciando a casa, calando os filhos para se fazer ouvir em outras casas. Eles se tornaram editores, diretores de produção, finalizadores de imagens, técnicos de som, roteiristas, narradores, figurinistas e buscaram trilhas sonoras para a mais perfeita filmagem onde ensaiam e dirigem orquestrando o andamento para que tudo saia da melhor forma possível. Envolveram maridos, esposas e filhos, irmãos e pais, amigos e amigas nesse novo e louco roteiro para que dessem contribuições de como poderia fazer para ficar cada vez melhor. Eu mesma fui convidada algumas vezes por amigos professores para assistir e opinar sobre suas aulas.

No entanto, o professor tem sido também, um dos profissionais mais atacados pela incompreensão, pela exigência da perfeição e total ausência de empatia.

Vamos pensar no professor como gente?

Ele também vive a crise, também vive o distanciamento social. Poucos  pensam no professor que está mudando radicalmente sua forma de trabalhar. O docente deixou de ensinar presencialmente, como bem dominava, para lecionar exclusivamente de forma digital, sem ter sido devidamente preparado e sem ter tido tempo para refletir melhor o que valeria a pena ensinar e o que seria melhor eliminar. Precisou lidar com a pressão de adaptar-se a ferramentas virtuais, preparar atividades que mantenham os alunos estimulados e, ao mesmo tempo, estar disponíveis para esclarecer dúvidas de pais e alunos. Também preocupar-se com questões como conectividade para que ninguém fique para trás durante a suspensão das aulas presenciais. Temos, então, mestres que estão em um alto nível de esgotamento e ainda recebendo críticas cruéis. Isso é muito grave!

Os professores estão dispostos a mudar, a aprender, a aprimorar, a substituir, a inovar, a desenvolver, a fazer o que for preciso para a Educação continuar, mas não suportam uma avalanche de pais, parentes, familiares de alunos que desde a primeira semana de aula não enxergaram o tamanho desse esforço.

As redes sociais estão repletas de depoimentos, piadas e agressões aos profissionais da educação, exigindo que se tornem youtubers e ‘blogueiros’ de uma sexta para uma segunda-feira. Acontece que não dá! Não é assim no mundo real.

É preciso um olhar menos acusador e mais empático ao papel do professor. Já é antiga essa prática de familiares irem na escola para ‘reclamar’ das aulas e metodologias dos professores. O que nos faz pensar no por quê disso acontecer. O que leva um médico ou um advogado, um juiz ou um vendedor, uma secretária do lar ou uma dermatologista ou ainda uma comerciante, ou outras tantas profissões que existem a saberem dar aula melhor do que o professor? O que dá as pessoas o direito de interferirem na metodologia de um mestre?

Que fique claro: o fazer junto, o caminhar em conjunto, as ideias e contribuições, sugestões e opiniões são importantes, mas a interferência pode ser arrogante e desrespeitosa.

O profissional que lida todos os dias com o presente e com o futuro, com as oportunidades e possibilidades, com a vida enfim, esse profissional do vínculo, do desenvolvimento humano, merece respeito.

Aos professores, todo meu respeito e minha reverência!

(A imagem de chamada provém do www.pxfuel.com/en/free-photo-xzqvm – que pode ser utilizado por outros projetos).

Juliana Merij é pedagoga, pós-graduada em psicopedagogia clínica e institucional. Trabalha atualmente como consultora pedagógica. Atua na Educação desde 1987. Leciona ‘Didática, Ética e Trabalho Educativo’ e ‘Técnicas e Metodologias para a pós-graduação’. Fundadora e membro do ‘Lugar de Menina’ – grupo de estudos sobre o empoderamento feminino e sororidade. Autora do livro ‘Poemas para a Sala de Alma’ e do romance ‘Asas ao Coração’.