EFEITO RP - Precisamos falar sobre como falar. Por Bárbara Calixto.

A comunicação se faz em todos os lugares, né?

Em cada placa de “pare” que encontramos nas esquinas, nos cardápios dos restaurantes, nas etiquetas do mercado e em cada painel do pronto atendimento dos hospitais. Tudo tem uma tradução, uma forma, e comunica algo para alguém.

Tenho pensado e dito, com frequência, sobre estarmos atentos aos comunicados, aos momentos da nossa vida, e o que eles querem nos dizer, as mensagens que transmitem e traduzem. Mas a verdade é que essa atenção precisa transcender todas as barreiras (físicas, virtuais e emocionais) para conseguirmos absorvê-la, compreendê-la e comunicá-la.

Eu pergunto: como anda a comunicação por aí? Sozinha ou de mão dada com algo ou alguém?

Na minha rede de convívio tenho visto e ouvido constantes reclamações sobre a comunicação. Ora é por falta dela. Ora é porque ela não é empregada da forma correta. Ora é pela falta de objetividade. Ora pelo não cumprimento da função. Ora pelo excesso de informação.

São tantas nuances que circulam no entorno da comunicação que é difícil abordar apenas um tema, um fato isolado. Em algumas ocasiões presenciei a falta de assertividade na comunicação, especialmente nos ambientes de trabalho remoto e assíncrono.

Em conversa com uma amiga, ela compartilhou o que estava acontecendo no trabalho dela, alguns desarranjos que transitavam com frequência: mensagens incompletas, falta de informação, reuniões que poderiam ser substituídas por um e-mail, notificações tardias etc. Conforme o desenrolar da conversa, percebi que não era apenas um problema na comunicação, mas também um problema de processos, ou melhor, a falta de processos estruturantes. Muitas vezes a comunicação é o meio, mas não necessariamente o fim. Ela pode ser “só” o sinal de alerta para um problema mais profundo.

No formato de trabalho remoto e assíncrono nós precisamos ter um cuidado maior em como vamos transmitir a informação. Recentemente eu presenciei uma situação um pouco delicada, mas que com certeza poderia ter sido diferente se a comunicação tivesse sido assertiva. Uma pessoa de um departamento importante, com poder para tomada de decisão que impacta a vida dos colaboradores, gostaria de agendar uma “reunião para tratar de assuntos pontuais”, que levaria cerca de apenas 10 minutos. Essa foi a única informação compartilhada, sem mais detalhes.

Quantas interpretações possíveis há nessa frase? Vindo de uma pessoa de referência de dentro da empresa a temática poderia flutuar de ajustes operacionais e acessos a ferramentas até demissão. E foi exatamente essa transição de pensamentos que aconteceu. A pessoa que recebeu essa mensagem/notificação ficou preocupada com a abordagem e vivenciou uma crise de ansiedade. Para tentar explicar a situação foi preciso questionar por duas vezes qual seria a temática apresentada neste “alinhamento pontual” para, então, descobrir que seria um assunto simples, que poderia ter sido informado na mensagem inicial,

Precisamos falar sobre como falar, né?

Mas, além de aprender como falar, também precisamos apurar o nosso olhar para pensar em outras formas de como comunicar. Em como usar as ferramentas a nosso favor e facilitar o nosso trabalho. No longo mês de agosto, a minha avó precisou ser internada e, ao visitá-la, vi na parede do quarto um mural de vidro contendo algumas informações, como por exemplo: nome, data de nascimento, nome do(a) médico(a), nome do(a) enfermeiro(a), riscos, sintomas prévios, enfermidades, observações. Além disso, no começo, o mural continha o nome do hospital – fazendo um reforço de marca – e, no final, uma frase reforçando a importância de lavar as mãos com frequência.

Ao ver esse mural, fiquei muito feliz com essa “inovação” – que na verdade é apenas um recurso sendo utilizado -, porque qualquer pessoa que fosse olhar o prontuário da minha avó, saberia os principais cuidados a ter com ela e/ou quem acionar caso fosse necessário. Também me lembrei do livro “O poder do hábito”, de Charles Duhigg, o qual menciona um estudo sobre a implementação de pequenas transformações (de hábitos e comunicação) na rotina dos médicos e enfermeiros, mas que impactaram positivamente nos atendimentos e cuidados com os pacientes em um hospital dos Estados Unidos.

Como a comunicação influencia algo tão singelo e pode – dadas as proporções – salvar vidas? E como a comunicação, aplicada de forma correta, pode evitar tantos desencontros?

Às vezes nos deixamos levar pela velocidade em que as coisas acontecem no ambiente digital e acabamos nos esquecendo de coisas muito simples, porém, extremamente relevantes e fundamentais: os envolvidos no processo e os elementos da comunicação. Não precisamos ir tão longe para lembrar de Roman Jakobson e sua teoria de comunicação. Se conseguirmos nos lembrar da ideia de emissor > mensagem > canal > receptor já é alguma coisa.

E se, especialmente, nos lembrarmos do receptor dessa mensagem, já é um grande avanço. A tal da ideia do “público-alvo”, amplamente divulgada, sabe? Que tal colocar isso em prática, até em ações do nosso cotidiano? Você, melhor do que ninguém, sabe como se comunicar com a sua mãe ou irmã, por exemplo. Sabe que pode brincar mais em determinado tema ou, ao invés de mandar uma mensagem, ligar quando o assunto for mais específico.

Existem muitas nuances dentro do processo de comunicação e nem sempre conseguimos controlá-las ou contorná-las. Mas sempre podemos minimizar as inúmeras interpretações que podem surgir.

Deixo um convite para repensarmos o nosso jeito de comunicar, especialmente nos canais assíncronos em que não estamos vendo a pessoa. Em um e-mail ou uma mensagem de texto, por exemplo, contamos com o recurso da comunicação escrita e podemos pensar em formas mais assertivas e direcionadas para transmitir o que realmente gostaríamos, tentando minimizar as diversas compreensões que podem surgir. São diversas possibilidades que podemos nos apropriar: gravação de voz, para transmitir a entonação; utilizar imagens ou emojis, tentando transmitir um pouco mais de emoção na frase; adicionar mais explicação e até direcionamento do que realmente você gostaria de passar.

Vamos ampliar esse olhar e dedicar um pouco mais de tempo para nos expressarmos e sentirmos melhor?

Bárbara Calixto é graduada em Relações Públicas pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e possui MBA em Marketing pela USP/Esalq. Atualmente, desempenha a função de Analista de Marketing em uma Govtech (Portabilis) e já trabalhou em agências de comunicação, no segmento varejista e indústrias. Além disso, é uma pessoa que ama cozinhar, apreciar a natureza e está sempre disponível para uma boa conversa.