Na minha família, todo final de ano, ou data comemorativa, acontece aquele encontro geral com vários parentes. As piadas já aparecem prontas, é o tio com as piadas do “pavê”, a tia que pergunta dos “namoradinhos” e as outras pessoas que querem saber se você trocou de carro, apartamento ou qualquer outro status que seja socialmente significante. Nessas últimas festas de final de ano, vivi duas experiências que me fizeram refletir para além dos encontros familiares sazonais, mas que também trouxeram o olhar da comunicação e de segurança emocional.
Compartilhei sobre isso em outro texto que escrevi, mas há um tempo a empresa em que eu trabalhava passou por uma reestruturação financeira e alguns funcionários foram desligados. Eu fui uma dessas pessoas. Desde então, tenho feito vários movimentos para minha recolocação no mercado de trabalho, tenho abordado pessoas, revisado meu currículo e escrevendo sobre projetos que já realizei. Fiz essas coisas, mas dentro de mim existia uma receio de contar para a minha família, justamente por conta das perguntas que poderiam surgir ou até de possíveis julgamentos. Demorei um tempo para falar, mas foi um tempo fundamental para eu me sentir segura comigo mesma.
E no encontro do final de ano, a pergunta sobre o meu trabalho surgiu e eu respondi tranquilamente, até pensando que poderia ser uma forma de fazer networking. Na nossa rede de relacionamentos e contatos, sempre uma pessoa conhece alguém que oferece um tipo de trabalho, por exemplo: você pode não conhecer um pintor, mas você conhece alguém que em um determinado momento contratou esse tipo de serviço e pode te passar uma recomendação.
Pensei no mesmo para mim, que alguém daquele núcleo em que eu estava poderia conhecer uma pessoa que precisasse das habilidades que eu ofereço. E fiz isso, falei sobre a minha formação, sobre atividades e coisas que executei e até sobre salário. Com o tempo que eu precisei para me sentir emocionalmente segura para falar sobre o assunto, consegui me posicionar de uma forma mais positiva, mais ativa e aberta para possíveis oportunidades.
Em outro encontro que eu tive, mas dessa vez com amigos, o assunto também girou em torno de trabalho, mas não sobre o meu. Eu ouvi a conversa deles sobre os presentes de final de ano que as empresas oferecem, comentando que os brindes ainda não haviam chegado, que todos os anos isso era um problema e que em uma data comemorativa específica alguns dos produtos tinham até estragado e quebrado.
Quando ouvi, pensei em várias coisas: como será o contexto dessa empresa? Qual era o orçamento para essa ação? Qual era o principal objetivo? Será que fizeram uma pesquisa interna para avaliar o que os colaboradores mais gostariam de ganhar? Será que conhecem o seu público interno?
Mas para além disso, também pensei no quanto nós falamos sobre os lugares em que trabalhamos e da nossa experiência lá, do quanto compartilhamos aberta e seguramente sobre tudo. Da mesma forma que eu falei sobre a questão da minha demissão, esses amigos também falaram sobre situações internas que nem sempre vão a público. Eu já conhecia essa empresa que meus amigos estavam comentando, mas saber de coisas que acontecem internamente é diferente, podendo passar a mim – ou qualquer outra pessoa – uma outra imagem.
Em vários momentos da minha carreira, nos diferentes cargos que ocupei, sempre enfatizei sobre a importância da manutenção do relacionamento com o público interno, do cuidado que os líderes e empresas precisam ter com os colaboradores. Depois do que eu ouvi e vivi, isso ficou ainda mais forte em mim, desejando que este campo fique cada vez mais forte nas empresas.
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Bárbara Calixto é graduada em Relações Públicas pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e possui MBA em Marketing pela USP/Esalq. Já trabalhou em agências de comunicação, no segmento varejista, indústrias e como coordenadora de marketing em uma GovTech. Além disso, é uma pessoa que ama cozinhar, apreciar a natureza e está sempre disponível para uma boa conversa.