DNA DE MARCA - Pauta PcD não deve ser usada como autopromoção. Por Maria Gabriela Tosin.

O início de uma nova edição do Big Brother Brasil é sempre muito esperada por todos os espectadores, já que é um dos reality shows mais famosos do país, mas este ano o programa conseguiu chamar a atenção por outro tema polêmico.

Quando os participantes do programa foram anunciados, o que chamou a atenção foi o fato de o programa selecionar um participante PcD. Vinicius Rodrigues é medalhista paralímpico e não possui uma das pernas – por isso, precisa utilizar uma prótese para se locomover. Esta é a segunda vez que o programa conta com um participante PcD. Na primeira prova do líder, patrocinada pela Chevrolet, o programa desenvolveu uma prova de resistência em que os participantes precisavam completar um circuito de obstáculos; a disputa começava com uma queda em uma piscina de bolinhas. Em seguida, os competidores deveriam sair dela por uma escada, rastejar por uma trincheira com tinta verde e, por fim, apertar um botão para confirmar a conclusão do circuito em um tempo máximo pré-definido. Quando chegou a vez de Vinicius participar do circuito, o que chamou a atenção dos espectadores foi o fato do atleta ter que remover sua prótese para completar o circuito, o que gerou uma tensão no programa e logo repercutiu por toda a internet. Telespectadores se mostraram indignados pelo fato do BBB selecionar um participante PcD, mas tratá-lo como qualquer outra pessoa, sem se atentar às suas necessidades.

Após a repercussão, a estratégia da Globo foi chamar o participante ao confessionário para conversar com Tadeu Schmidt sobre o desconforto da prova e esclarecer os fatos. Vinicius então explica que optou por retirar a prótese porque se tratava de uma prótese que não era à prova d’água, e a prova continha uma espécie de tinta em uma das partes do circuito. Até esse ponto tudo bem, mas é impossível isentar o programa da culpa. Por que Vinicius não foi apenas avisado para utilizar a prótese à prova d’água? Em nenhum momento isto seria visto como trapaça, mas apenas um ato de respeito ao PcD. Além disso, o que chamou a atenção também foi o tom em que o apresentador tratou o assunto PcD no BBB, como se fosse algo extremamente novo e que todos estão começando a entender – mas sabemos que isto não é verdade.

O que vimos então foi uma sequência de erros e desrespeito com as pessoas PcD, além do programa ter deixado uma péssima impressão para a marca patrocinadora do programa, a qual claramente pagou valores exorbitantes para estar presente ali, mas acabou tendo que resolver uma crise de imagem ao invés de fortalecê-la. Este episódio só deixa claro que precisamos de inclusão, mas a inclusão não pode ser uma forma de autopromoção, algo de que estamos sentindo falta no mercado.

Maria Gabriela Tosin é graduada em Relações Públicas pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), especialista em Mídias Digitais pela Universidade Positivo e mestranda em Administração pela PUC-PR. É criadora do blog pippoca.com, host do podcast ‘Loop Out Cast’, atua como pesquisadora, é autônoma e colaboradora em diversos blogs.