DIVERSIDADE E INCLUSÃO NAS EMPRESAS - Reflexão do ano: estou comunicando com todos os brasileiros? Por Jovanka de Genova.

Final de ano é tempo de reflexão, de pensar no que fizemos e planejar o que ainda está por vir. É tempo de olhar para o que foi bom e seguir neste caminho, assim como perceber que nem tudo deu certo e traçar uma nova rota. Por fim, podemos mapear o que foi feito em 2022 para sentir a temperatura das mudanças e do que nos espera no futuro.

Foi pensando nisso que Arlane Gonçalves, fundadora e diretora executiva da AG Consultoria, elaborou o “Mapa de Diversidade, Equidade e Inclusão no Brasil em 2022”, uma retrospectiva do ano a partir de notícias publicadas na internet sobre como o mercado vem reagindo a este tema neste último ano. Vale a pena dar uma lida em todo o material e conferir alguns insights.

O que quero destacar aqui, para fechar o ano com um debate, é sobre a aceleração da diversidade no ecossistema das startups e de inovação. A Arlane traz um número muito importante para entender isso. De acordo com o Instituto Locomotiva, a população negra consome cerca de R$ 1,9 trilhão ao ano, o que representa 40% do total do consumo brasileiro. Se uma única parcela da população consome tanto, por que será que as marcas não estão olhando para ela?

Apesar de representarem um grande grupo da nossa sociedade, ainda há pouca comunicação, direcionamento ou atenção para essas pessoas. Pensemos aqui na população negra, indígena, com deficiência, LGBTQIA+ e diversos outros. Imagina o potencial de crescimento de uma marca, de abrangência e alcance ela não teria se pudesse se conectar com esses públicos, outras visões de mundo e culturas. É como que empresas e marcas estivessem escolhendo não faturar mais ao excluir – seja de forma proposital ou por não pensar em incluir – esses grupos.

Um estudo do Procon-SP, em 2020, avaliou que quase 60% das pessoas com deficiência, que participaram da pesquisa, às vezes, têm alguma dificuldade em comprar ou utilizar produtos e serviços em estabelecimentos físicos. Se há um impedimento, se não há uma comunicação clara para que essas pessoas possam ter uma boa experiência de consumo com as marcas, elas não compraram e não se tornaram clientes destes locais. Será que essas empresas estão prontas para perder possíveis clientes que compõem cerca de 25% da população brasileira?

Em relação à questão racial, bons exemplos citados pelo “Mapa” de Arlane são editais e programas de recrutamento em startups focados na população negra. O primeiro passo já está sendo dado e, aqui, concluímos que, em 2022, começamos de algum lugar e agora precisamos ir mais adiante. Expandir os programas para além da questão racial e alcançar ainda mais pessoas em 2023. Será que é possível? Tenho certeza que sim.

Até porque, falamos muito sobre como a diversidade é importante para dentro das empresas, como elas ganham tratando seu público interno com respeito e igualdade. Mas, assim como Arlane nos lembrou em seu “Mapa”, a Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) precisa ser levada para além dos RHs. Levar esses valores para toda a cadeia de produção, que envolve desde fornecedores, além dos funcionários e clientes. Isso é vantajoso para todos os lados. Se um ganha por ser incluído e participar mais ativamente dos processos, o outro se destaca por poder contar com mais pessoas dentro de seu ecossistema. Quem conseguir fugir do que é considerado um padrão na sociedade estará no caminho certo.

O Brasil é um país muito diverso, com diversos pequenos e grandes grupos que formam a nossa sociedade. Conseguir comunicar com todos eles é um desafio, mas não é impossível. Explorar a brasilidade, a nossa cultura tão diversa, é um grande passo para conseguir atingir outros públicos e expandir o potencial de uma marca ou empresa. O brasileiro vive seus sentimentos e sua comunicação de forma intensa, estamos cada vez mais conectados com aquilo que nos representam, com o que conversa conosco e fazem questão de chamar todos para o debate. O desafio aqui é diversificar essa comunicação, entender que são pessoas diferentes, mas que, no fim, estão em busca de coisas bem semelhantes.

Acredito que temos muitos aprendizados para tirar de 2022 em relação à diversidade e inclusão. Avançamos em muitos pontos, estamos mais atentos às mudanças e ao que precisa ser feito para melhorar. Mas ainda estamos no caminho e há muito para se aprender. O importante é que já deu para entender que esse é um tema crucial para nós, brasileiros, que somos diversidade, fomos criados em culturas tão diferentes e que, ao mesmo tempo, somos um só povo. Diversidade foi a chave para uma boa comunicação neste ano e será também no próximo.

Obrigada a todos que me acompanharam ao longo de 2022!

Fontes

– Mapa da Diversidade, Equidade e Inclusão do Brasil em 2022, AG Consultoria – ​​https://www.linkedin.com/posts/arlanegoncalves_mapa-da-dei-no-brasil-de-2022-activity-7008020152248070144-jSTa/?utm_source=share&utm_medium=member_desktop

– Estudo Original – Brasilidade – https://conteudo.mindminers.com/estudos-originais/brasilidades

– As faces do racismo, Instituto Locomotiva – https://ilocomotiva.com.br/wp-content/uploads/2022/01/as-faces-do-racismo-2020.pdf

– Relatório Pessoa com Deficiência X Mercado de Consumo, Procon-SP – https://www.procon.sp.gov.br/wp-content/uploads/2020/12/Relat-Pesquisa-Pessoa-com-Def-161120.pdf

Jovanka de Genova é educadora e gerente de educação, com mestrado em Educação, Arte e História da Cultura, e com mais de 17 anos de atuação na área de comunicação organizacional e educação corporativa, em especial na gestão de cursos e soluções educacionais. No LinkedIn: www.linkedin.com/in/jovankadegenova.