DIVERSIDADE E INCLUSÃO NAS EMPRESAS - Dia do Trabalho e o desafio da inclusão no mercado de trabalho. Por Jovanka de Genova.

O mês de maio já começa, literalmente, com a reflexão sobre trabalho, direito e lutas dos trabalhadores. Também é um momento de refletir sobre como cada indivíduo foi impactado por essas conquistas e como os ambientes de trabalho se tornaram mais inclusivos e diversos ao longo dos anos. E, quando paramos para pensar sobre os resultados até aqui, percebemos que muitos empregados ainda não alcançaram postos de trabalho dignos, mesmo com toda a evolução que tivemos no último século.

Mas, antes de falarmos mais sobre a situação dos trabalhadores hoje, vale um resgate na história para saber um pouco sobre a data de 1o. de maio. Já no final do século XIX, em 1886, milhares de trabalhadores, em algumas cidades dos Estados Unidos, foram às ruas para lutar por mais direitos, principalmente, pela diminuição da carga de trabalho para 8 horas diárias. Foram manifestações tão importantes que, ainda hoje, colhemos seus frutos e somos impactados por suas conquistas.

A redução da jornada de trabalho veio junto com o estabelecimento de horários fixos de trabalho, definição de horas extras, benefícios, leis salariais e para equivalência de gênero, cotas para pessoas com deficiência, previdência, entre outras conquistas. Foi mais de um século de lutas para conquistarmos o que temos hoje, leis trabalhistas que impactam diretamente na formação e no desenvolvimento de famílias, sejam elas brasileiras ou de qualquer outro lugar do mundo.

E no dia a dia, como essas mudanças mudaram a vida das pessoas? Mais qualidade de vida, estabilidade econômica e mais oportunidades de crescimento profissional. Tudo isso que, dentro da nossa atual situação, é ainda considerado um privilégio para tantos trabalhadores, o que nos faz pensar no quanto ainda temos que lutar e conquistar. Afinal, o mercado de trabalho ainda é para poucos e é um desafio muito grande fazer que boa parte da população tenha acesso a esses direitos conquistados há tanto tempo.

Vamos a alguns números: no Brasil, hoje, a taxa de desemprego está em 11,2%, de acordo com dados do IBGE (2021), o que representa cerca de 12 milhões de pessoas da parte ativa da população. Vale dizer que o próprio IBGE considera como desempregadas as pessoas acima de 14 anos que não estão trabalhando, mas que estão em busca de uma ocupação. Esses são os dados referentes à população como um todo, porque, quando olhamos para as pessoas com deficiência, transexuais e negros, por exemplo, os números mudam um pouco.

Segundo o estudo “Empreender 360”, do Sebrae-SP (2013), menos de 50% das pessoas com deficiência fazem parte da População Economicamente Ativa (PEA). Lembrando que aproximadamente 24% da população brasileira têm algum tipo de deficiência. Só que, no mercado de trabalho, eles são apenas 7% dos empregados.

Quando falamos sobre as pessoas transexuais, os números também não são muito animadores. Uma pesquisa da Fapesp, em 2020, realizada com 528 participantes transexuais, em sete cidades do estado de São Paulo, apontou que 13,9% das mulheres trans e travestis estavam empregadas formalmente, enquanto que o número para os homens trans é de 59,4%.

Já em relação à população negra, dados do estudo “Síntese de Indicadores Sociais”, divulgado pelo IBGE em 2020, mostra que ela tem uma taxa de desocupação maior do que a dos brancos – 13,6% para pretos ou pardos e 9,3%, para brancos. Os negros ainda são os que mais trabalham de modo informal, como em serviços agropecuários, construção civil e serviços domésticos, e representam 47,4% desses empregados, enquanto entre os trabalhadores brancos são 34,5%. E, quando não há um resguardo legal do trabalho, as chances de serem submetidos a péssimas condições de trabalho e remuneração são bem maiores.

Esses são só alguns dados que nos fazem pensar que as lutas do século XIX foram só o começo do que os trabalhadores de todo o mundo ainda precisam encarar. É claro que avançamos muito e, hoje, podemos ter melhores condições dentro do mercado de trabalho, mas muito ainda precisa ser feito. Muitos grupos ainda são marginalizados e, como já falamos anteriormente, não é uma situação boa para nenhum dos lados, seja para a empresa que não tem uma equipe diversa, seja pelas pessoas que precisam continuar buscando por mais espaço e respeito.

Diante disso, o que podemos fazer? Continuar lutando e buscando inspiração nesses primeiros trabalhadores que não tiveram medo de enfrentar a sociedade e foram em busca de seus direitos. Precisamos sempre estar atentos às oportunidades de trabalho para os grupos minoritários para que possamos adotar e incentivar ações afirmativas, coerentes e possíveis de serem realizadas a fim de incluir mais pessoas no mercado de trabalho.

Jovanka de Genova é educadora e gerente de educação, com mestrado em Educação, Arte e História da Cultura, e com mais de 17 anos de atuação na área de comunicação organizacional e educação corporativa, em especial na gestão de cursos e soluções educacionais. No LinkedIn: www.linkedin.com/in/jovankadegenova.